19.12.08

Final Fight




Amanhã, ás 15h, no Sebo do Bac, na praça Roosevelt.

E não preciso enumerar motivos pra você sair de casa, isso fica por sua conta.

O que sei é que nenhuma ceia de Natal será tão agradável quanto uma reunião como essa, quase uma reunião de amigos!

Ensaiei um número de trapézio pra animar a coisa, mas acho que não vai rolar, então levo alguma coisa pra ler e economizo com o plano de saúde.

Estou com alguns abraços guardados e pretendo amanhã não esquecer nenhum!
Um maço de Mallboro é minha compania pra hoje! Nada de filtro branco.
Dezesseis dias "de molho", com direito a colinho da vó. Preciso de mais? É claro que sim, mas hoje faz frio aqui, do lado de dentro também, inclusive, portanto me despeço do motorista do ônibus com um sorrisinho sacana, e volto cheia de novidades horríveis e sem nenhuma graça (porque agora estou falando dos outros). Já vejo uma suculenta feijoada fumaçando no caldeirão e pra amanhã eu só penso que ainda tenho que lavar os cabelos, que mais parecem um ninho hoje.
Estou classificando os momentos em Hoje e Amanhã, e é tão óbvio quanto todos os meus desejos cinco minutos antes de ouvir aquelas coisas e ficar outra vez com medo do que tenho que fazer, ou não fazer, acho que trata-se mesmo de espera, e eu ha muito não gosto disso. Ficar aqui parada contando os passos, os meus.
Obviamente isso não interessa a mais ninguém, e eu sei disso e sei que daqui a pouco vou passar a borracha e vamos brindar àquilo que realmente causa alguma sensação melhor que esta de estar aqui sozinha com esse maço pela metade e essa xícara (copo de requeijão) com café frio e pouca açúcar. Oh céus, alguém aí me paga uma dose de conhaque?
Tudo vai bem quando se tem os amigos, eu sei eu sei eu sei. Todo mundo sabe disso. É como quando pensamos em Deus, ou em alguma oração, sempre que algo vai mal. A gente senta na beirada da cama e une as mãos e diz coisas que nunca mais diremos, coisas que até nos envergonham, e dizemos obrigada! ou se sobrar um tempo aí, Senhor! e é só vestir o capote verde musgo (gosto dessa cor) e sair de casa, com o guarda chuva. Mas os amigos, estes nossos queridos amigos, não esperam que as nossas mãos estejam unidas, eles sempre chegam antes do amém.
Porque eu pensei que dava pra chegar em qualquer lugar e sempre carregar no mesmo olhar aquela estranha certeza de que tudo vai bem, sim, por que não? e eu sei eu sei eu sei, grande bobagem. Mas eu não tenho a mesma bola de vidro que as "ciganas" compram no crediário.
Hoje eu tenho um pouco de cansaço somado a indiferença com o jornal, com a previsão do tempo, com a mensagem que você devia ter me enviado ontem.
E o cigarro é tão mais barato, e olha, causa muito menos mal, eu sei disso também.

11.12.08

"O dia amanheceu chovendo e a saudade me contém"


26.11.08

"Já não disseram por aí que a felicidade é aquele espaço entre uma tristeza e outra?" - Luana Vignon

22.11.08

E daí que era uma bobagem? Era a minha bobagem e isso a tornava sim, a maior encrenca dos tempos. Porque eu já não tô afim de ser a mesma sempre, de ter os mesmos defeitos que lhe fazem tão bem. Por mais que eu me limite ao impossível, que é gostar de tudo isso e de você, eu já nem acredito mais em todas as coisas, e gostar de tudo isso é tão absurdo quanto as mil frases que você nunca termina e aquela ruga na sua testa que fica tão engraçada quando te olho da cozinha, você na sala ou em qualquer outro lugar, é tão engraçado!
Mas família, como você fala e diz que é dú caralho, essa eu não quero não. É triste demais ver tantas pessoas ali sofrendo por uma regra que nem elas mesmas escolheram. Gosto de gatos, e passarinhos, mas os dois juntos é impossível, dá merda, tipo o lance de família sabe.
Pode contar aí nos teus dedos quantas vezes eu disse que ligaria, mesmos quando eu disse que só ligaria pra dizer um oi, eu não gosto de telefones, é tudo tão monótono, tão mais fácil. Prefiro, ainda e portanto apenas me ouça, sentar no beiral daquela janela naquela casa, de onde eu teria lhe acenado ou jogado um beijo sacolejando num riso frouxo. A mesma coisa todo dia, como as páginas da folhinha do calendário onde é sempre dia 12, segunda-feira. Nós não vamos voltar lá e fazer tudo outra vez, porque vai dar tudo errado, perdemos o jeito com os pequenos defeitos de nós dois, aquela casa fica muito maior vazia, e mais bonita!
Papai vai gostar de saber que me dei mal, e com você, e pela família vou me sentir recompensada se tudo, ou parte então, seja mesmo a, ou uma delas, verdade.
Quem me dera ter certeza de tantas palavras que saem da minha boca arrebentando meus dentes, nem essas cicatrizes se parecem as minhas, eu duvido que sejam, assim como eu duvido que quando eu terminar de dizer todas essas coisas e me virar pra você ainda estará aí esperando que eu resolva alguma, e qualquer pois não é o caso da gente, coisa, e outra vez.

21.11.08



Os Cabeludos,

Flávio Vajman e Enio.

14.11.08



Estou um tanto ausente, não é só dessa casa, estou ausente mesmo. Do resto todo, eu acho.


Mas não deixaria de avisar por aqui, também, que estréia hoje a peça "Mulheres Bobeiras e um Ataque de Risos" com as lindonas: Fabi Vajman, Fernanda Gama e Mariana Clara, imperdível!
Três malucas que vão hoje, e disso eu tenho certeza, quebrar tudo naquela salinha do Ruthinhaaa (assim mesmo, como o Tonho da Lua, porque hoje tô engraçadinha, quequetem?).


Portanto, saiam dos esconderijos hoje e amanhã e domingo e confiram o excelente trabalho dessas meninas. Não restará nenhum arrependimento em suas vidas.


Bom, suficientemente informados meus caros leitores, e mimados portanto, não vacilem, pô!


O Erva Daninha agradece a visita de todos (todos???), e a bêbada desmemoriada (é só charme) que vos escreve promete aparecer em breve, ou não.


Não desistam de mim crianças. Rá!

Serviço: Teatro Ruth Escobar / Sala Miriam Muniz

Sex e Sáb, 21h30Dom, 19h

R$30. 12 anos.

13.11.08

não sei o que me deu hoje, mas é muito parecido com aquela alegria gratuita a qual nos permitimos, mas não sempre, o que não combina e não tem nada ver com ser ou estar bem.


Porque algumas músicas sempre vão me deixar sem jeito, mal conseguirei balbuciar seu nome quando você disse "alô!"

11.11.08

Ela tinha todos os bons motivos pra não ficar comigo. As mulheres constroem suas estátuas, por motivos e circunstâncias e não tô falando das mulheres e sim destas mulheres que acabam paradas perto de um telefone, ou esperando o carteiro trazer alguma notícia, ou outra conta vencida. E a garoa fina não a deixa despenteadas, nem as resfria o corpo, porque esats mulheres são diferentes das que você conhece, meu caro. Elas podem chorar convulsivamente por algo fútil, tão lindas! Jamais saberei descrevê-las como as vejo. Mesmo nua sobre a minha cama consegue esconder todos os mistérios, todo seu pavor, é só ela fechar os olhos. Porque essa mulheres trazem nos olhos os pesos e as adagas.

Ela tinha tudo quanto precisava e comia bem. Dormia em lugares limpos, em camas macias e tinha amigas e tias e professores de canto. E eu aqui sentado na poltrona falando sobre música negra a uma menina branca, cor de gelo, menina doente. Sua doença chamava-se família, ela me dizia entre o pranto e nossa orgia quase espiritual. Ela tinha os dedos dos pés mais gelados que já pude sentir, eu que nunca reparava em nada agora pensava nos dedinhos dos seus pés branco gelo. Sua voz tão suave falando de seus fantasmas e do amor que sentia por uma amiga do colégio, o que fez com que sua mãe a trouxesse de volta ao seio e a faz ter a pele azulada, ela não saía de casa.

Me disse que queria voar pra algum lugar bem longe, ela fazia um biquinho com o lábio quando dizia "beeeeeem longe, meu amor" e nunca esquecia do meu amor. Quando digo as mulheres me refiro a ela, porque foi a única que não me pediu pra ficar. Isso é tão bonito da parte dela, ela apenas acena da janela, esconde o rostinhho meio de perfil pra que eu não a veja chorar, e sai com todos os homens mais bêbados que me conheçam, ela não escreve cartas, ou telefona, acho que faz isso pra que eu tenha noticias.

6.11.08

4.11.08

Maior Tortura


Na vida, para mim, não há deleite.
Ando a chorar convulsa noite,
E não tenho nem sombra em que me acoite,
E não tenho uma pedra em que me deite!

Ah! Toda eu sou sombras, sou espaços!
Perco-me em mim na dor de ter vivido!
E não tenho a doçura duns abraços
Que me façam sorrir de ter nascido!

Sou como tu um cardo desprezado
A urze que se pisa sob os pés,
Sou como tu um riso desgraçado!

Mas a minha Tortura inda é maior:
Não ser poeta assim como tu és
Para concretizar a minha Dor!



Florbela Espanca

28.10.08

Conversa de Botequim

Psicografia

Também eu saio à revelia
e procuro uma síntese nas demoras
cato obsessões com fria têmpera e digo
do coração: não soube e digo
da palavra: não digo (não posso ainda acreditarna vida) e demito o verso como quem acena
e vivo como quem despede a raiva de ter visto

Ana C.

24.10.08

Amanhã tem:




E tem cerveja gelada no Didio's Beer, tem as deliciosas e tradicionais Empadas do Batata (sanduiche natural também!) e os Livros em promoção no Sebo do Bac.
E se você perder tudo isso considere-se um babaca, porque eu vou considerar-lhe, meu bem! Rá!

20.10.08

Passei o domingo na casa dos meus avós, em Indaiatuba. Fui com a minha mãe.
Sempre volto melhor de lá, cada canto daquela casa é um alívio. E as comidas da minha vó me fazem esquecer que preciso entrar naquelas calças que não estãome servindo. Camarão na moranga, fava com bacalhau, feijão-não-sei-o-que, aquele arroz "da vó" que me parece o melhor do mundo (e talvez seja!)


Alguns diálogos do domingo


ele "mas a Odete não engordou"
ela "engordou sim... e eu já falei isso pra ela, falei ontem"

ele "você fala demais, bem"

ela "é... você também"

com suas juras "ela é a minha paixão, fico sem ar se ela não está por perto" e ela manda bem natural "mentiroso... ele é um mentiroso, sabe Paula"com um beijo depois e um sorriso pra mim!


Coloquei meu cd da Tempo Instável logo que acordei no domingo, meu avô parou perto da caixa de som
"bonito, é... francês?"
"é sim, quem está cantando é o Paulo de Tharso"

"ele era o apóstolo"
"pode ser que tenha sido..."
(uma piscadela pra mim)
"aí tá certo!" e saiu caminhando pra cozinha descascando uma banana...


Eis "meus personagens":


Mama Jow, dona da 'pensão' onde me escondo


vô João, o bailarino!




vó Tereza, a dançarina!

13.10.08

Dizem que pensamentos bons atraem bons fluídos, e é certo que alguma coisa aí está batendo. Mas eu prefiro acordar "uma manhã de cada vez" e fazer as coisas do jeito torto que me é peculiar, e algumas das coisas boas funcionaram justamente por isso, acredito. Com certeza estaria aproveitando mais essa fase, as coisas estão melhorando, se não tivesse essa ruga na testa e essa eterna desconfiança de que a qualquer momento uma bomba vá explodir. E isso e o fato de ser mulher não tem nada haver, eu tenho esse descuido em aproveitar mais as coisas, por mais pequenas e, as vezes injustas, que sejam. Mas a minha quase completa insatisfação me priva de pequenos prazeres e momentos e olhares. Se eu fosse homem a coisa teria acontecido assim, eu sentadão na mesa do bar, mesa na calçada, uma bunda atravessando na minha frente e eu pensando nas merdas dos fios descascados que vou ter que ajeitar atrás da estante antes que dê um curto, ou contas e supermercado, e a bunda cruzando a esquina tristemente sem que eu a tenha notado. As coisas passando assim por mim sem maiores sorrisos, pouca emoção do lado de cá (o lado de dentro), e minhas unhas compridas ferindo os demais. E tanta coisa boa acontecendo, meu Deus...

9.10.08

e derrepente alguma coisa tem que ser feita, algo urgente, eu no ônibus voltando do trabalho, não necessariamente pra casa mas, voltando do trabalho com sono e dores de cabeça e lembranças tristes e ressaca ao redor do corpo, os dias passando rápidos a semana acabando a mesma falta de grana de muito tempo e aquela vontade que nunca acaba, aquela vontade de não-sei-bem-o-que que vem no fim do dia, mesmo que a cidade inteira, falo das pessoas em cima dela, calassem sua bocas enormes ainda teria muito barulho e o eterno mau cheiro, e alguma coisa tinha que ser feita em mim para mim e é isso, começou uma música (é até pecado chamar aquilo de música, mas a essa altura) com muito auê e tumtumtum e as pessoas sorriam e mexiam a sobrancelha e faziam humhumhum e laralálaralá (não como o Roberto Carlos naquela música que não lembro o nome agora) e o balanço das ruas, buracos onde a água da chuva apodrece e evapora e volta a ser, meus pés, clandestinamente, começaram a se mover, pezinhos batendo no "ritmo" daquela orgia, medo-meu-medo, e reparei meus lábios abrindo e fechando, participando daquela zorra toda, e alguma coisa pra acontecer, e minhas calças suando, de volta pra uma cama e nenhuma casa, e agora a sensação era de que estava prestes a morrer, porque aquilo só podia ser sacanagem, cantei um refrão inteiro e era a mesma música (os músicos, me perdoem por isso) que escapava do rádio da dona Lurdes na copa, que nem precisa mais daquele emprego agora já na sua milésima primavera, e o som me perseguindo, asco, tumtumtum auê humhumhum, achei que nessa hora ouviria trombetas e sinos e algum maluco de cachinhos louros voando e me esticando a mão, em todo lugar acontece, isso entra dentro de você, seus pés não acompanham o bom senso que é de seu costume, NÃO, seus pés são tão safados que conseguem te envergonhar, daí a vontade de não-sei-bem-o-que e o sinal e a parada e você corre, pra um lugar silencioso, não necessariamente a sua casa, mas você tem uma cama e algum sono, e pensa que amanhã pode acontecer tudo novamente e aí você pega no sono de uma vez, e no outro dia você resolve que não vai mais sair de casa.

7.10.08

"O amor é uma porta para as piores encrencas e para o cardiologista mais próximo. É o que eu acho. Mas que ele existe, até mais que as bruxas, existe. Eu não acredito em felicidade, mas também não acredito em suicídio, porque ainda acredito no próximo porre ou no próximo livro desesperançado que vou ler." - Mário Bortolotto aqui

26.9.08

teus 37...


Patrícia (o blog dela),


Feliz Aniversário!!!

caixa de entrada do Hotmail:

(desculpem a imagem "meio torta", não consegui arrumar, mas o flyer é lindo, isso é o que importa)


"E vamos entrar na 3ª semana em cartaz!

Será que chegaremos além disso? Depende de vocês!

Não é porque a peça é minha não, mas o negócio tá muito bonito. O Paulinho e a Marina têm um carisma e um entrosamento muito bom, o Paulinho tá engraçadissimo e a Marina anda cantando muito bem. Sem falar que as músicas do Nei Lisboa contam a história melhor que o meu texto, e olha que meu texto não é de se jogar fora, modéstia a parte.

E o que vocês estão fazendo que ainda não me deram o benefício da dúvida? Saiam das cadeiras do Parlapatões e vão até o Ruth ver uma peça legal... eu garanto.

E a história?

Inspirado nas canções do compositor gaúcho Nei Lisboa, o autor criou a história de um casal em busca de seus sonhos. As diferenças começam quando ela decide investir na carreira de cantora, e ele, um desenhista de histórias em quadrinhos, se confina cada vez mais em casa.

E se a peça não fosse minha, eu iria muito ver, puta sinopse legal, falaí!

Mas tá sem dinheiro? Não tem desculpa:Imprima a imagem anexa, apresente na bilheteria e você e 1 acompanhante terão 50% de desconto. Dá pra imprimir quantas quiserem.

Mas se você quiser pagar apenas R$5,00. Entre em www.ingresso.com.br e compre pela promoção Teatro é um Barato, ou pelo telefone: 4003-2330. Também dá pra comprar na sede da Apetesp, na Rua Paim, 72 e até em algumas lojas americanas... algumas.

E se você assina o jornal Folha de São Paulo, pode entrar no site do Clube Folha e imprimir o seu voucher para pagar 50% também.

Nem tem do que reclamar." - Paulo F.

25.9.08

Cara, hoje tô me sentindo estranha. Acordei atrasada, nem tanto, mas tava atrasada. Quando fui me vestir nada ficava bom, nada me servia, não que eu já não sirva nas minhas roupas, é que tudo me pareceu diferente, como se aquilo não fosse meu, tava deslocada.
Aí tudo foi na mesma sequência, o copo em que tomei uma vitamina de banana, a própria banana que peguei na futeira. Passei pelo espelho no aparador da sala e fiquei me encarando, não gostei do meu cabelo e achei minha cara mais amassada que uma ameixa. Não era TPM, nunca é, eu só acordei assim-assim, estranha e de pouco humor, quase nenhum.
Olhei pras minhas mãos e fiz uma careta, estou com alergia e elas estão ressecadas daquele jeito nojento.
No trabalho não foi diferente, era como se tudo que eu fizesse fosse dar merda, como se a qualquer momento eu fosse ser demitida, passei o dia meio que desconfiada não-sei-com-o-que.
Meu paladar tá estranho também, eu até comi presunto, não tive vontade da coca-cola. Não desejei nenhuma morte hoje, nem da mina que me manda o horóscopo por e-mail todas as manhãs, eu só pensei na minha cama e nas horas que faltam pra me jogar nela, de roupa e tudo, nem tiro o allstar se bobear.

Mas hoje, estou estranhamente tranquila, como se isso fosse o suficiente pra mim, mas não é.
“O prisioneiro não é aquele que cometeu um crime, mas o que se agarra a seu crime e o vive repetidas vezes. Somos todos culpados de crime, o grande crime de não vivermos uma vida completa. Mas somos todos potencialmente livres. Podemos não pensar no que deixamos de fazer e fazer aquilo que esteja dentro do nosso poder. O que possam ser esses poderes que existem dentro de nós, ninguém ousou verdadeiramente imaginar. Que são infinitos, nós nos conscientizaremos no dia em que admitirmos a nós mesmos que a imaginação é tudo. A imaginação é a voz da ousadia. ” - Henry Miller. Sexus
bilhete n° 2 pra mim mesmo

Não posso negar que algumas coisas mudaram, mas é assim mesmo, não? A gente acorda e todo dia é diferente, a vida nem sempre é bacana e nem sempre olhamos direito ao redor. Topada atrás de topada, reclamando disso e daquilo, reclamando por ter tempo demais sobrando, e por não ter tempo suficiente também. O que é que vale realmente nessa vida?
Não me lembro de ter me sentido tão bem como agora nos últimos quatro meses, o que veio antes me fez muito contente, o que vem agora só me dá sorrisos.
Eu podia ter continuado com a mesma gargalhada, eu a tenho dentro de mim é só deixar ela sair, mas eu olhava as paredes e os rotos das pessoas e ela ficava lá dentro, não saía. Devia ter dito todas as coisas de uma só vez, devia ter te ouvido, devia ter dito aos meus amigos que os amo, como se fosse tudo que eu tivesse a fazer. E talvez fosse, talvez essa insegurança fosse só mais uma brincadeira comigo.
Deixei a louça na pia, deixei a sujeira acumular e tudo o que queria ter feito era ter ido mais vezes ao cinema, ter viajado, ter gravado o ome daquela música que eu nunca me lembro. Agora, olhando ao redor, percebo que deixei o tempo correr sozinho, me perdi nisso tudo.
Hoje quando saí de casa eu fiz o sinal da cruz, talvez eu ainda tenha um pouco de fé. Saí contente, desconfortávelmente contente, sem pensar horas a frente, eu só tinha de caminhar até a estação de trem.
Não era divertido, AINDA É. Os fantasmas estão partindo, tenho uma bagunça e tanto pra arrumar, mas ainda são os mesmos móveis, os mesmos livros, as mesmas caretas e piadinhas, ainda tô aqui. E se alguma coisa vale em tudo isso, então que seja pra me fazer ficar.

23.9.08

20.9.08

Minha Regina.

No mesmo sofá onde fodemos o futuro? ela disse.
Eu digo que esse papo romântico não me agrada mais, e ela ri. Antes de sair da sala.

18.9.08

eu disse, sim

As roupas, passadas e cuidadosamente alinhadas em minha gaveta, os bichos alimentados e muita comida por todo o lado. Talvez isso seja o mais próximo do matrimônio que consegui chegar, bem, eu estive lá mas nunca tive jeito com a "lida" (como dizia seu Antonio, meu pai) e elas nunca se importaram com isso. Elas, porque já tive mais que uma mulher, digo esposa mesmo, foram três, cada uma levou de mim um pedaço irrecuperável. Eu as amei, todas. Mas garotas espertas conseguem se dar bem. A primeira foi a Virgínia, doze anos mais nova, doze vezes mais mentirosa que qualquer mulher que já conheci. Tinha uma boa bunda, e preparava o melhor frango ao molho que já comi na vida, era só o que sabia fazer com as panelas, mas fazia bem. Casamos no quintal da casa de seus pais e foi uma tarde terrível. Toda sua família perguntava pelos meus, irmãos, pais, se eu tinha um cachorro na infância, ela dizia qualquer coisa e todos riam inclusive eu, que ria deles. Nunca fui um cara bacana e todas elas sabiam disso e mesmo assim compravam vestidos, lençóis, e faziam festas e eu recebia os parabéns de gente que nunca tinha visto. Virgínia tinha uma mania que me incomodava, ela gostava de lamber o meu cú, e quando eu negava ela ficava duas semanas dormindo sozinha na cama. Eu achava aquilo meio incomodo, mas eu gostava mais ainda do corpo dela nu, e às vezes eu nem percebia aquela língua asquerosa na minha bunda. Virgínia foi embora e deixou tudo pra mim, até me mandava algum dinheiro, ela disse que me amava muito mas não podia ficar. Eu recebia uma grana gorda da minha querida ex-mulher, eu concordei que ela tinha de ir.
Aprecio a solidão, gosto do silêncio da casa vazia, apenas os ruídos da vizinhança vivendo suas vidas. Do trabalho pra casa, alguma coisa no copo pra esquentar o corpo, os livros na estante esperando meu desespero devorá-los, aqueles programas ruins na tv, os tapetes empoeirados na sala. Quando percebi tudo já estava limpo. Cortinas em cores nauseantes, cheiro de mulher em cada canto. Renata, pequena como uma formiga. Eu já não aguentava meninas, ela tinha a minha idade e eu achei que tínhamos muito mais em comum, ou foi ela quem pensou nisso...
Trabalhava num café aonde eu ia todas as tardes, ela usava um uniforme apertadinho e tinha seu nome num pequeno crachá, eu dizia "Renata é seu nome, eu me casaria com você" e agora essas cortinas e mãos quentes esfregando minhas costas. Parecíamos um casal feliz, íamos almoçar fora aos domingos e acenávamos para os vizinhos. Mas Renata queria um maridinho que eu sabia nunca poder ser, acho que na verdade ela queria era uma mulher, que aguentasse suas conversas sem fim, suas novidades repetidas, e sua família e suas cortinas. Nosso casamento durou um mês, e dessa vez eu me mudei e levei apenas objetos pessoais, cigarros, cuecas e os meus livros. Ela me deu uma fotografia em que eu a abraçava, alguém fez uma festa daquelas com muita cerveja gelada e eu abraçava minha esposinha insatisfeita. Não tenho mais a fotografia, usei pra anotar meu telefone a pedido de uma garota certa noite numa dessas esquinas. Amei-a desde o primeiro café sem açúcar, mas ela precisava de uma mulher.
Mudei de cidade, o bom de ser novo no lugar é que todos temem você. Acham que você é algum maluco psicopata foragido, um depravado, um bêbado qualquer, e quase sempre estão certos. Aluguei um apartamento pequeno, comprei alguns móveis, botei uma cortina pra me lembrar da Renata, telefonei pra Virgínia "você ainda me ama" ela disse, eu precisava de dinheiro pra mandar pra Renata. Dois casamentos rompidos, me levaram bons pedaços aquelas mulheres. Agora eu queria ficar sozinho de uma vez por todas, sem cortinas que é como eu gosto, sem ter que me preocupar com quem ando dormindo. Um corretor de seguros (eu ainda não tinha mencionado isso) transferido pra outra cidade depois do segundo divórcio, era quase uma história triste. Lia um pouco depois do jantar, macarrão com molho pronto e salsichas, deixava a tv ligada num daqueles filmes terríveis que botam sempre no melhor horário e essa era minha vida quase triste. Eu amei aquelas mulheres, amei de dentro pra fora, elas nunca vão sentir isso outra vez, e EU sei disso. Mas eu disse três casamentos. A terceira foi a mais querida das minhas mulheres, falo dos matrimônios. Linda em cada detalhe, voz suave, seios fartos, família in memorian, não gostava de animais. Não gostava de cozinhar, tinha grana pra jantarmos fora todas as noites. Ela dava pra um cara que tinha grana, acho que trabalhava no banco, e nós aproveitávamos disso. Como era linda e esperta a minha garota. Numa noite eu até me peguei fazendo planos futuros, quase certo que essa era a mulher da minha vida. Fodíamos sempre que estávamos juntos, em qualquer lugar, ela era louca e eu gostava daquilo. Numa outra noite ela é quem estava fazendo planos. Arrumou suas coisas e foi morar com o cara do banco, um sujeitinho miúdo, uns vinte e sete anos no máximo e ainda tinha espinhas. Me deixou uma carta, que eu nunca li. Foi sem se despedir. Garotas espertas se dão bem!
Amei-a como as outras, nem mais, nem menos. Minhas garotas espertas. Dizem que esse negócio de matrimônio, essa coisa toda, não funciona. Estão certos, é uma merda na maior parte do tempo. Mas a vida toda é assim, uma merda na maior parte do tempo. Eu tive minhas mulheres, minha garotas, e elas se foram, fiquei entre mudanças, lembranças e nada mais que meus objetos pessoais. É o tal do casamento, depois do sim.

16.9.08

Antes da porta bater eu estava na cozinha com uma avental, no avental estava escrito "as mulheres têm mãos pra isso", o avental era da minha mãe então é só ignorar a frase. Estava lá preparando uma salada de maionese, uma deliciosa salada de maionese com aquelas suculentas batatas. Sem cebola e cheiro verde, você não gosta, com milho a beça como me pediu. Lavei as mãos antes de pegar nos legumes. Fiz tudo certo e dessa vez quase acertei, quase. Você estava parado na porta e me atravessou com tristeza, senti meus olhos soltos dentro da minha cabeça, senti nojo da minha comida. Senti imenso asco de tudo que eu tocava, eu tenho quebrado muito mais peças que antes, não consigo segurar o jogo. Mas eu falava de comida e você ainda estava parado na porta da cozinha e não dizia nada, acho que estava cansado de dizer qualquer coisa pra mim. Eu, que decidi cozinhar pra nós "meu bem, espera só pra você ver" e você viu mesmo, viu que eu deixei o fogo alto queimando quase tudo. Nem açúcar eu botei na quantidade certa (se é que existe uma medida pra isso). Errei a receita outra vez, nem com milk livros eu pude evitar outro descuido, desandou... queria qe você não tivesse parado ali naquela hora, porque talvez eu tivesse fazendo qualque outra coisa e não tivesse agora olhando pra porta que você quebrou quando saiu.

E não tenho tido mais fome, nem vontade de pensar em panelas e pratos e frases em aventais.
Só tenho pensado em você, que foi embora batendo a porta. E vi que estava chorando, porque eu botei a comida quente no prato e sua língua queimou. Acho que é por isso que não tem falado comigo...

10.9.08

(quase) tudo novo

Emprego novo, chefe novo, computador novo, agenda nova, novo itinerário do buzão, novo caminho de volta pra casa (que ainda não é nova).
Tava olhando a vista da janela nova e, caralho, será que ninguém se dá conta disso?
Eu tinha um puta prédio me escondendo do sol, tinha cafézinho na xícara de louça, tinha o cheiro dos poodles das madames do Jardim Paulistano me fazendo espirrar, tinha um porteiro bem humorado e fofoqueiro e um outro mal humorado e desinteressado, tinha o shopping Iguatemi ao meu dispor, tinha tempo sobrando pra ler meus livros, pra ler o blog dos meus amigos. E eu não tinha nenhum dinheiro no bolso.
Hoje eu dei uma olhada aqui da minha nova janela, e vi um amontoado de casinhas marron claro (tijolo a vista, saca?), prédios do CDHU, mulheres carregando crianças, de mãos dadas com outras crianças, talvez indo buscar mais outra na escola. Não vi nenhum brilho nem glamour desta janela, ouço um alto falante "bananas, bananas, você só paga 1 real" ouço os gritos da molecadinha que tá lá na sala fazendo aula de capoeira. Não tem poodle aqui, mas tem gente de todo tipo, e nenhuma madame dando sinal pro taxista na porta do shopping. Aqui não tem shopping, nem supermercado, nem banco, nem casa lotérica, nem açougue nem nada, tem muito hospital, e tem os prédinhos verde claro da CDHU, e tem muitas mulheres e crianças.
A primeira hora passou correndo e um menino me pediu papel higiênico pra limpar o nariz que o amiguinho arrebentou num "maior golpe" de capoeira, como me contaram.
As pessoas aqui são bacanas, e sou a segunda mulher da casa, portanto, acabou-se meu descontentamento com o próximo capítulo das novelas. Hoje até ouvi um "do caralho" e o ambiente é mais agrádavel assim, com pessoas normais, de certo modo.
Tudo novo, agora acho que posso até tomar uma cerveja a mais, e posso ir ao cinema em dias que eu quiser escolher.

Acho que agora consigo turbinar essa casa, as ervas daninhas começaram a crescer por todos os lados nesta manhã, estou voltando.


P.S.: Só não vou trocar de namorado, de jeito nenhum, esse eu quero pro resto da minha vida! (isso até parece um pedido de casamento, não? hahaha... e se fosse? hahaha)
Aproveito, e registro: te amo!

O único arrependimento, Você sabe sobre o que tô falando, foi não ter diminuido a velocidade na descida, têm coisas que não se concertam, e pessoas que não podemos magoar (não temos esse direito).
Isso nunca mais saiu da minha cabeça depois daquele dia... e essa noite demorou 55 horas pra passar.

1.9.08

Pra cada coisa boa que nos acontece, duas ruins vêm de lambuja, constatado. E pra cada coisa ruim que surge perdemos a chance de observar novas boas oportunidades. Matematicamente, isso pode variar, uma pra cinco, nada bom no meio do tornado. Sabe como é...

Eu que achava que tinha problemas enormes, e vivia choramingando minha triste vida, hoje finalmente descobri o que é estar na merda. Bem no meio dela, toda aquecida num fedido bolo fecal. Aí ouço "pelo menos você mora com sua mãe que te dá as coisas". Sabe o que minha mãe me deu? Um vida todinha minha pra eu cuidar e amar e abraçar e chamar do que eu quiser. Aí eu era pequena e comia salgadinhos de "isopor" e tomava tubaína com os moleques no campinho de piche no fim de semana, e depois eu comecei a usar sutiã e nem tinha peito, e aprendi a dançar bolero na aula de dança e decidi que não queria mais aqueles outros cd's. E tudo ia bem até eu olhar pro espelho e ver meus olhos inchados e minha cabeça doendo e minha boca seca. E daí pra frente eu não parei, e os olhos cada vez mais caídos. Mama Jow nunca foi de me dar grana, comprava o que eu precisava e me alimentava e me dava um troco pra uns doces (falo de pirulitos daqueles listradinhos, chicletes ping-pong, pipoca gasparzinho, esses doces) mas grana mesmo eu tinha porque arranjava uns trampinhos. Mas eu nunca ganhei mais do que eu gasto, e isso é um problema de verdade. Aí eu continuava reclamando e blábláblá...

Mas veio uma coisa boa, bem boazuda mesmo, e como eu já disse, matematicamente a merda viria em peso.

Caí do telhado, LITERALMENTE, e me arrebentei e arrebentei o que restava de "carinho" pela minha família. Porque por mais que eu estivesse disposta a feazer da minha casa um lugar melhor pra viver, eles ainda continuariam sem entender nada. Só congelei, deixei passar mais essa. E agora, vejam só, sei o que são verdadeiros problemas.

26.8.08


Hoje é aniversário da Duda, a sobrinha do meu amigo Sergio Mello (que é padrinho dela também!)
Eu já disse que acho esse menina uma coisa, né?

Feliz Aniversário amiguinha!!!

Aproveita pequena, você ainda pode comemorar seu aniversário, porque isso o sr° prefeito ainda não proibiu.

25.8.08

bate-bate-bate, vai coraçãozinho, continua sempre assim, tá?
bate essa panela de pressão na minha cabeça, eu te disse que não adianta mas você não me ouve.
bate seu canalha, um dia eu começo a gostar, mas vá batendo, bate-bate-bate.

tinha um cachorro na rua, um cachorro gordão com cara de mau, muito mau, com olhar previdente, mirando minha bunda, ele até tentou rosnar mas eu fiz um olhar diabólico e ele entendeu "te mordo também ô, panaca" e esqueceu de mim e da minha bunda.

confesso que hoje eu pediria um café com leite naquele "disk café com leite" mas essa água tônica nunca esteve tão bárbara!

são quase dez horas da manhã, tenho três reias e quarenta e cinco centavos na carteira e vou comer pão de queijo, tem um boletinho de estimação na bolsa (uma bolsa amarela, grande, linda! vou me exibir antes de um novo assalto), fome-sono-dor no pé-amor-amor-amor...
Bom Dia pra vocês, o meu vai ser muito bom sim!

aquela música, qualé mesmo o nome? então, nela também vejo você! aiaiai, hoje acordei bem mais mexicana que de costume.

alguma novidade? nãnaninanão.

(o que tá parecendo isso aqui? hahaha, tá parecendo... hahaha, deixa pra lá)

22.8.08

"Foi bom eu ficar com você
O ano inteiro
Pode crer!
Foi legal te encontrar
Foi amor verdadeiro
É bom acordar com você
Quando amanhece o dia
Dá vontade de te agradar
Te trazer alegria...
Tão bom encontrar com você
Sem ter hora marcada
De falar de amor bem baixinho
Quando é madrugada...
(...)"
Vi Você, na música do Tim.

20.8.08

Talvez eu não sinta pena de mim, talvez o nome disso não seja pena. Quero que me ouça agora de verdade
Caixa de areia

Sempre tivemos bichos em casa. "Tivemos" não, eles tiveram. As pessoas que moram na minha casa sempre gostaram de bichinhos pelo corredores. Cachorros, passarinhos, peixes, hamster, rato branco, e meus irmãos. Bichos de cores e comidinhas diferentes, eles adoram.
Eu nunca tive muito saco pros bichos, cansava rápido, enjoava, ficava puta quando me mandavam limpar cagada de cachorro, gaiola de periquito. E trocar a água do aquário então? odiava com toda a força da minha alma, assim exageradamente mesmo.
Nunca tive uma casa sem eles, bichos. E nunca gostei da casa que eu tinha (a mesma ainda). Eles, os da casa, cuidavam de seus bichos e me obrigavam a cuidar também.
Bichos de estimação, isso não entra na minha cabeça. Filhos são bichos de estimação pras mães, pra algumas mães do tipo "mama Jow", que cuidam, apertam, esfregam no peito, dão comida, levam pra passear, entende? Bicho não tem que ser de estimação, como acho que filho não é também.
Um amigo tem uma gata que deu cria no mês passado, sete gatinhos todos diferentes um do outro. Me perguntou se queria um deles, "talvez um machinho" foi o que me disse, respondi que sim, mas de um jeito bem natural e ciente que não tava aceitando um presentinho que amanhã botaria no armário e vez ou outra dispensaria uma olhadela. A gata ainda tá amamentando os filhinhos e acho que até o fim deste mês terei vida nova na casa velha.
Aí comecei a pensar no que eu tô arrumando pra mim, cuidar de um gato nunca me passou pela cabeça e dessa vez eu sei que é isso que quero fazer. Não é um bicho de estimação, é um amigo que vai dividir o quarto comigo.
A minha cunhada tem um gato, o Mico (se bem me lembro o nome do bichano), e ele é vesgo e lindo. Outro dia na casa dela fiquei olhando pra ele, observando cada movimento, cada ronronada, cada vez que ele se lambia sem se preocupar com mais nada. A Érika (a cunhada) contou que antes de ser castrado ele saía e voltava uns dez dias depois todo arrebentado, capenga, mas com um "sorriso" sacana muito divertido.
Me apaixonei por aquilo!
Aí fiquei empolgda com o futuro novo morador, e até já batizei o gatinho: Marvim!
Pesquisei na internê sobre eles, os felinos. Que delicia, independentes, metidos (hahaha), silenciosos e lindos, todos.
Vai ser bacana, e quando ele chegar vou tirar fotos e verão que o Marvim é um cara bem sedutor!

18.8.08

Estou viciada em jogar paciência, porque no computador é bem mais fácil que aqui dentro.


Hoje eu respondi mal, mal dia pra nós todos! Eles estão me espionando agora, só por causa disso.


Ele é o homem mais bonito do mundo, e

13.8.08

Hoje eu acordei mulherzinha, me espreguicei como uma gata no cio, penteei minhas madeixas, comi pão integral, escovei meus dentes e passei batom (que sujou toda minha blusa no caminho do trampo). Mas já desmocizei, tô de allstar e boca limpa, hahahahaha.


A Patricia tem blog, a Patricia tem blog, a Patricia tem blog, gente!

Ah, você não conhece a Patricia? Vem e puxa uma cadeira, a cerveja é por sua conta.


Mama Jow, minha mãe, a mulher que mata pernilongos, me disse que vai fazer um clareamento nos dentes, porque ELA QUER SORRIR MAIS. Isso me deixou contente!


Minha amiga tá procurando casa. Não é sapato, saia, nem jóias, é casa, e isso é foda. Se alguém souber de um apartamentim baratim com pouca burocracia contratual, "liga nóis" (como diz meu irmão maloqueiro).


Continuo com a cara de pessoa mais feliz do mundo, e tudo vai bem. Desmaios no vagão da CPTM, a mocinha do banco que já é minha amiga, o café morno na xícara... tudo vai bem.


Do mais, Valderico pra vocês, ou mais uma daquelas frases que só algums pessoas vão entender.
Hoje vamos cantar e dançar. Eu danço, você canta, hoje eu vou cuidar de tudo.

Primeiro eu abro a porta. Depois, você entra. Não, eu sei que é muito óbvio, é que hoje eu quero cuidar de tudo. Senta aí na poltrona se quiser. O jantar tá no fogo, na panela tem carne de crocodilo e de avestruz, é horrível mas me disseram que você gosta de comida exótica e eu pensei "ou eu frito meus rins no azeite?" mas acho que vai ficar bom. Sente o cheiro? O cheiro... lembra disso?
Lá na geladeira botei tudo que é verde pra baixo, o resto tá em cima e só tô dizendo isso pra você saber que não guardo mais cervejas e rabanetes na gaveta. Tem pão italiano pra comer com o crocodilo, o avestruz a gente como com qualquer outra coisa.
Vou tirar minha roupa as dez então temos duas horas e cinquenta e... nove minutos pra comer, conversar e criar um clima romantico. Acho que vou precisar de uns minutos a mais porque eu sempre sinto vontade de cagar logo depois das refeições, mas é coisa rápida. Aí eu vou tirar a roupa e você vai tirar os sapatos e a calça e vai me comer, por umas duas, três horas, e silêncio. Não será um silêncio eterno, porque você vai começar a andar de um lado pro outro e eu vou ficar atravessando você com meu olhar, e vamos dizer três adeus.
Antes de ir embora já aviso que a porta tá despencando e se bater outra vez com a mesma força vai ter que me trazer um consertador de velhas portas.
Mas você ta aí de pé faz tempo, dezessete minutos e um terço.
Não tem nada na panela, é só água fervendo pro nosso café. Tudo que é verde tá lá embaixo, na gaveta, e tem cerveja por toda parte. E você pode tirar minha roupa, verá que ainda tenho as mesmas marcas, aquelas que nunca somem.
Mas senta aí que vou te trazer um café forte, e te conto o que fiz com as malas.
Hoje eu vou cuidar de tudo, daquele jeito torto que vai se equilibrando, hoje eu vou sentar aqui do seu lado e você vai sentir o cheiro da minha saudade. É assim que você falou aquele dia no hospital, quando eu disse que precisava voltar.

8.8.08

Vou falar outra vez na minha mãe. Mama jow, como a chamo. Ela, que sempre tá me esperando, me telefonando, me pedindo pra falar mais baixo, pra não esquecer a marmita.

Tenho meus problemas com ela, são probleminhas pequenos que nos empurram contra paredes de vidro, quase arrebentando tudo. Ela, com aquele coração de mãe e com aquele olhos cheios de amor, as vezes consegue me dobrar.

Eu nunca fui uma "boa menina". Nada do que fiz agradava minha mama, eu sempre fazia ao contrário, não por rebeldia, não por querer ir contra os girots dela, mas porque eu era (sou) daquele jeito, com a voz aguda, quase rouca falando alto, batendo as portas, pedindo silêncio dentro da minha cabeça. Sabia que ela não tava braba comigo porra nenhuma, mas ela achava que se fizesse o papel daquela mãe me teria sempre nos braços, poderia evitar que eu chorasse, que me machucasse e que, talvez, me apaixonasse. Só que ela foi filha antes e tinha mais certeza ainda que nada disso era verdade, que quanto mais junto mais distante, mais dificil.

Eu e ela nos entendemos do nosso jeito, eu gritando ela quebrando, depois a gente começa a falar de qualquer bobagem e logo em seguida a briga recomeça.

Semana passada decidi que faria da minha casa um lugar mais agradável, pelo menos pra mim seria. Ouvir pouco, não gastar frases o tempo todo, fechar a porta antes de começar o barulho. E tava dando certo, eu dormia cedo, não perdia a hora pro trampo, até assistia a novela Pantanal com o mala do meu irmão e seus "por quês?". Mas do jeito que veio, a tranquilidade de não travar batalhas ali, foi embora rápido.

Minha mãe tava com dois dedos de cabelo branco na raiz, está com uns quilos bem a vista, não ouve as músicas ruins que gosta e só pensa em sabão em pó e arroz com sazon. O que tem isso demais? Vão dizer. O que aconteceu ha anos, quando eu ainda quebrava o braço de patins solta e descabelada por aí, foi minha mãe desistir. Desistir de si mesma, como quem guarda um retrato na gaveta deixa ele lá, empoeirando até a imagem sumir numa camada gordurosa de poeira e tempo. Ela deixou a mulher de lado, a amiga, ela virou um monte e lamentações e ódio. E esse ódio cresceu em mim, ódio por ela, por tudo que ela deixou de ser e fazer por anos.

Eu amo a mama, eu a abraço e beijo e digo que a amo, todos os dias. Eu acompanho algumas de suas poucas diversões, eu atendo o meu celular na madrugada, eu não acendo cigarros dentro de casa. Mas eu também xingo, eu mando ela pra puta-que-pariu, desejo sua morte, eu choro quando ela não tá perto.

Minha mãe é linda, ela tem um sorriso tão engraçado, fica toda vermelha parece que vai estourar, ela não cozinha muito bem mas sabe que não gosto de salsicha e presunto.

Vê-la largada no sofá esquecida de quem ela é me deixa transtornada. E não devia, porque eu tinha decidido não olhar mais para aquilo, tinha decidido fazer da minha casa um lugar mais agradável pra mim.

Ontem, cheguei estropiada, cheia de dores nas costas e meu ombro latejando por conta da porra da burcite (nem sei como se escreve). Ela tinha pintado o cabelo e o novo corte é super bacana, tinha feito lanches porque não tava afim de cozinhar e perguntou se eu queria assistir a novela com ela, eu disse "quero, vamo lá" não queria, mas fui, e assistimos todos os programas ruins da tv aberta. Me perguntou se eu ainda tinha medo de escuro "claro que eu tenho, morro de medo" e rimos a beça.

Na hora que fui me deitar ela já estava na cama dela, ainda acordada. Pedi pra dormir na sua cama, ela deixou e eu fiquei lá deitada com a mama Jow. Acordei e ela estava na minha cama e eu tinha um cobertor a mais.

Hoje pela manhã ela disse que quer fazer um clareamento nos dentes, fiquei muito feliz, porque isso não é preocupação estética, não. Minha mãe tá afim de sorrir mais, e eu tô feliz pra caramba com isso!

6.8.08

bodas de Lã

Absurdamente linda. Como nenhuma outra podia ou conseguiria ser.
Absurdamente a única, eu me casaria com ela.
Suas meias desfiadas, seus cabelos desgrenhados e suas unhas sujas, sujas de sangue de tanto que as roía. Os pés imundos descalços, número 35 com unhas vermelhas já descascando. Vejo sua cara redonda cheia de sardas em cada esquina, em cada mulher triste que cruza avenidas na faixa de pedestres. Uma mulher de modos rude e delicada de um jeito constrangedor.
Mal pronunciava seu nome, eu mal lembrava do seu nome, o que eu sabia é que aquela mulher era pra vida inteira, ou pra parte boa dela. Um rabo grande, empinado, que se encaixava nos meus desejos como nenhum outro. Peitos pequenos, cabiam na minha mão sem sobrar. Peitos durinhos que ainda me apontavam com ternura. Fodia com ela até dentro do meu sono.
O nome dela, Regina, às vezes me esqueço, nunca de sua buceta rosada. Parecia uma frutinha dessas frágeis, eu a despia quase sem tocá-la, eu a ajeitava perto de mim, fodíamos por horas sem dizer nenhuma palavra.
Quando seu corpo começou a cair seus olhos foram escurecendo. Algo ainda restava dentro daquele saco de peles e sentimentos. Alguma coisa que eu tinha medo, ou nojo, de tocar, ainda restava daquela mulher.
Os cabelos começavam a rarear, as vezes eu a comparava com uma cebola descascada até a metade, deixada fora da geladeira pra enrugar, pra murchar e apodrecer. Não dizia isso a ela, mas a via como toda aquela casca despencando. Com o tempo passei a falar olhando pro seu queixo, ou por cima do seu ombro, queria evitar os anos que carregavam seu olhar e suas maçãs.
Já conversávamos menos, eu a ouvia marcar consultas ao telefone, em voz baixa mas ouvia ainda. Eu comecei a comer na cozinha, ela na sala, fodíamos uma vez ou outra, muitas destas vezes só por costume, maquinalmente e com muito pouco tesão. Durava menos que uma hora, sempre eu por cima com a cara enfiada no travesseiro. Virando o rosto pra não ver suas calcinhas no chão, um dia pequenas e coloridas e tinham cheiro de buceta, agora pareciam mais fraldas daquelas de pano, amareladas. Ela fechava os olhos e dizia coisas e gemia um bocado, mas eu sabia que não era ela quem fazia aquilo, seu cérebro dizia que tinha que segurar, que ainda podia com aquilo tudo. Com cafés da manhã, com roupas sujas no cesto de plástico, com a porta do banheiro aberta.
Absurdamente linda! Isso me segurava ali na poltrona esperando uma de suas crises convulsivas de lágrimas, que vinham com mais força a cada aniversário.
Nada do que eu dissesse, nada do que eu fizesse, nada tiraria dos seus ombros aquele fardo. Quarenta e nove anos depois do primeiro choro, rostinho vermelho, mãos pequenas. Entende quando digo absurdamente linda? São muitos anos despencando depressa, e ainda repito a mesma frase. A casa com paredes manchadas com fomo e umidade, portas já rangendo, flores artificiais enfeitando uma sala vazia, vazia de gente, cheia de móveis e quadros e cortinas.
Comecei a pensar em várias desculpas numa carta, uma viajem com urgência, alguma tia com câncer terminal, nada que a pudesse magoar mais que seu corpo desmanchando. Não consegui escrever nenhuma linha, a tinta da caneta nem chegava até o papel.
Eu também me sentia diferente. Olhava no espelho e via menos pêlos no meu peito, mais barriga que outrora. Mas meus olhos, meus olhos continuavam os mesmos, com a mesma firmeza, meu sorriso ainda estava intacto, meus braços desenhados por músculos ainda rijos. Eu vivia dentro daquele corpo. Tínhamos a mesma idade, os mesmo gostos, os mesmos amigos e o passado bem dividido. Como é que aquela mulher pôde se adiantar tanto? Quando foi que a deixei escapar?
Penso que eu não estava o tempo todo lá. Trepávamos e depois eu dormia o sono dos deuses, cansado, relaxado. Nunca percebi que ela continuava olhando pro teto, com um cigarro entre os dedos, até reclamava pela manhã que eu não tinha ouvido nada do que disse. Realmente nunca tinha ouvido nada.Escrever uma carta seria uma saída pra mim, mas só pra mim que conheço um caminho pra fugir. Pra ela seria como terminar de arrancar sua alma daquelas peles frias.
Muitas noites eu quis tê-la só em meus braços, beijar sua boca, lamber seu corpo, guardar seus seios pequenos em minhas mãos, ser o homem que ela dizia que eu era. Aquele homem era só o homem que a fodia, que a admirava com a pele sardenta, com os cabelos perfumados. Aquele homem que só via uma mulher deslumbrante nua sobre a cama. Uma mulher que estava sempre lá, sempre depois de um dia de trabalho, sempre pronta pra apagar a luz. Os anos castigaram aquela mulher, a minha mulher. Agora fico enjoado com aquele corpo gelado procurando aconchego em mim, reviro na cama e até ronco quando consigo. Tenho pensado cada vez mais em terminar logo aquela carta, ou começá-la. Mas algo que desconheço em mim, algo que os olhos não alcançam, que palavras não exprimem, algo me faz rasgar mais folhas e abraçá-la. Como jamais a abracei, sem pensar nas suas formas, sem desejar fodê-la como antes. Fico aqui ainda, repugnando o cheiro de leite com maizena saindo da sua boca, rejeitando seus lábios trincados, fico apenas observando sua tristeza tentando encontrar alguma coisa dentro daquele vaso rachado.
Absurdamente linda! Como será sempre, mesmo intacta, sobre a cama com todos os anos correndo contra. Porque eu sei que não vou conseguir escrever nem a primeira linha daquela carta.

5.8.08

MaicknucleaR em novo endereço, outra vez!

4.8.08

[o Zeca entrou na minha casa como das outras vezes, descalço e sem me olhar muito nos olhos]
Ainda gosto de olhar mulheres fumando nuas. O barato é ver a brasa queimando, despindo o cigarro a cada tragada. As mulheres não costumam falar do que gostam, nem todas mas muitas, do que querem e como querem. Como, por exemplo, pedir pizza sem orégano. Coisas que só importam pra nós mesmos.
[nos conhecemos ha muito tempo, mas até hoje não consigo entender quase nada do que ele me diz, e mais estranho ainda é que nunca diz muita coisa e nos entendemos assim]
Comprei doze caixas daquele cereal. Eu não como, mas gosto de abrir o armário e ver que elas estão lá e organizadamente do meu jeito. Quando você telefonou eu estava no mercado comprando isso aí, e só ouvi seu recado na secretária eletrônica agora e você já está aqui. Ainda estou botando as coisas no lugar. Vê, tenho mais almofadas que o necessário, a gente sempre tem muito daquilo que não precisa.
[um passo largo primeiro, dois mais curtos até parar de costas, e virando lentamente sem mover o resto do corpo, ele chegou perto do bar da sala e ficou encarando minhas garrafas]
Talvez se bebermos todo esse wisk... como quando aconteceu... Sabia que você é o único amigo que tenho na vida? Verdade. Não sei nem como é sua voz, lembro de poucas palavras, mas você sempre esteve aqui, ou em qualquer lugar, e sempre caminhou desse jeito aí, um passo largo, dois mais curtos e uma virada quase imóvel pra sacar qualquer coisa.
[os olhos iam de rótulo em rótulo, de garrafa em garrafa, passou o dedo em duas taças, acho que me oferecia um drinque]
Saúde! Penso que todo mundo deveria beber algo como isso. O mundo ficaria bem menos chato se todos fôssemos bêbados.
[sua boca moveu-se, como uma risada, foi coisa rápida quase imperceptível, se eu não o conhecesse acharia que foi ilusão minha]
Ouve? É por isso que me mudei pra esta casa. Latidos durante toda a madrugada, é só isso que eu ainda suporto. Você trouxe cigarros?
[absorto com as garrafas enfiou a mão no bolso, mexeu por alguns segundos, tirou o maço e me alcançou um cigarro, em seguida me estendeu o isqueiro, ele também acendeu um]
Quer que eu tire a roupa agora? Enquanto fumo?
[seus olhos entraram dentro dos meus, alguma coisa o tinha incomodado, pegou dois copos e me serviu um dose agora]
Sabe aquele ruído que o dedo tira da taça se o passarmos em círculo, assim, esse ruído é constrangedor.
[viramos, os dois, os dois copos, ninguém falou mais nada]
...
Desejo é isso? Ficar aqui pensando sem descanso, lembrando frases? Não, não é isso. É ir até lá e ficar lá até que tudo fique bem.
Podemos acabar com mais uma garrafa. Se você quiser, pode dormir aqui.
[uma vez ele me perguntou se eu conhecia algo pior que o amor, ele quase nunca falava e quando isso acontecia era eu quem estava ali, eu não respondi, ele entendeu que era pra sempre]
Estou bem, me curando de mais uma gripe, os ataques agora vem em espaços mais longos. Outro dia quase telefonei pra você, pra contar da mudança. Vou pra Austrália na semana que vem.
Ouve? Nenhum barulho além dos latidos.
[Zeca não é só o meu melhor amigo, o meu irmão de coração, não, o Zeca sabe que sempre vai poder vir até a minha casa e ficar correndo os olhos por copos, garrafas e almofadas. Sossegado]
O que é isso no seu braço? Outra ex-mulher boa demais? Exatamente por isso que prefiro beber o tempo todo, as companhias não têm me feito muito bem.
[sabemos que a conversa não vai além disso, colocamos um disco pra rodar, dessa vez o sorriso aparece quando a música invade a sala, esse sorriso eu conheço, então começo a tirar minha roupa]

1.8.08

Camila tinha mais que o rebolado mais bem ensaiado do bairro. Tinha sobrenome de pai sumido e apelido de filha única. Mas tinha irmãos, e uma porrada de namorados. Camila sabia que encantava subindo escadas, era só o que fazia da vida. Tinha decotes pra marmanjo chorar no escuro e falava batendo a língua nos dentes amarelados cheirando a chiclete de tutti-frutti. Camila nascia todo dia e morria porque queria, porque só Camila podia.
Camila que gostava de passarinho solto, de gato no telhado, de versinho de amor soletrado. Camila que só não gostava de mim, e que nunca dizia uma palavra nem mesmo no bom dia.
Mas Camila, que nadava no rio que sua cabeça criara, essa eu sabia ser a mais bonita. Que forçava pra esconder o sorriso escapado do susto, que dançava sozinha debaixo de poste de avenida.
Camila tinha mais que todo aquele cabelo enrrolado, senpenteando no pescoço, me matando de desgosto por não poder puxar Camila pro meu lado, o lado oposto.
Camila que fazia festa quando aparecia o dia só pra botar saia curta e passar esmalte vermelho na unha comprida. Eu aqui na janela do quarto, pensando em Camila que não aparece ha dias. Sonhando Camila em todas minhas fantasias. Ah! Camila, como te queria...

30.7.08

Holligans Poets do lado de cá

"Hoje eu acordei achando o mundo muito feio"*

Cheio de cinzas de cigarro rodopiando em volta da minha cabeça. Pessoas indo e vindo e esbarrando nos quarenta e sete quilos de angústia que carregava na bolsa. Buzinas e faróis trocando luzes. Ninguém imgina o que os motoristas de ônibus estão pensando daquela nova lei. Nem eu, que só comia pastel na feira por causa da vinagret. Hoje eu acordei achando tudo muito feio, porque aqui o sol saiu tímido e falta ainda muita cor nas paredes e nas faixas de pedestre.
Dor vindo de todos os lados, dívidas impagáveis, bilhetes esquecidos debaixo da caixa de som e tudo ainda muito feio. Do jeito que eu gosto!
Hoje eu acordei e vi aqueles olhos em cima de mim, eu só queria que o relógio parasse de tocar e tudo continuasse. Como ficou e está e blábláblá.
E se eu disser isso a outra pessoa, ela pode não entender. Porque eu continuo achando tudo muito feio, mas eu não largo o osso, entende? É assim mesmo, quem disse que não tinha que ser?


*(tirei de uma música, que não lembro o nome, do meu amigo Paulo de Tharso, o verdadeiro chinês!)

25.7.08

Entrou na minha sala rebolando um rabo grande espremido numa calcinha pequena que marcava a saia. Soltou uma risadinha frouxa e sacolejou os braços como um retardada. Se não fosse a única mulher ainda disposta a dar pra mim eu a tinha dado um soco no meio da cara.

24.7.08

[foto do Pierre]


"A tristeza me recobre


E mando a cerveja goela abaixo


Peço uma bebida forte


Rápido


Para adquirir a garra e o amor de


Continuar!"

Charles Bukowski

Como é que posso fazer? Telefonar pra comentar da tira do Laerte hoje na Folha, só você ia entender o que quero dizer. Ou comprar uma caixa de bombons e aparecer no seu trabalho dizendo palavras desencontradas por toda a minha uma hora de almoço. Telefonar e desligar assim que você atender, porque não teria coragem de dizer nada além de "eu... eu..".


Como é que eu posso fazer? Ir até aquela rua que você passa no caminho pra casa e ficar atrás de um poste ensaiando um sorriso um pouco menos triste pra tentar provar que vou ficar bem logo. Mas mentir pra mim é mais fácil que mentir pra você, sabia?


Como é que posso fazer? Sentar no banco do ponto de ônibus em frente a sua casa e esperar você sair com a cara inchada, aí você vai primeiro passar na banca pra comprar o jornal, quando chegar perto vai fingir que não me viu e vou dizer chegando mais perto "bom dia!..." o que não vai fazer mais que não adiantar nada. Então fico aqui pensando como é que posso fazer...




Posso continuar repensando todos os dias mais felizes da minha vida e trabalhar com um sorriso desenhado no rosto, como o do Coringa do filme que combinamos assistir juntos, lembra? Posso continuar ouvindo o Tim Maia carregar meus olhos. Posso pensar no gatinho que vai morar lá em casa, e como é que vou fazer pra deixar ele dentro de um quarto? Posso engolir cada lágrima que já não consigo suportar, posso continuar contando os passos, os minutos, os batimentos cardíacos e as pessoas que se parecem com você dentro do ônibus, do supermercado, do consultório do dentista. Posso continuar dizendo que sou a pessoas mais feliz do mundo só pra niguém me perguntar como estão as coisas. Conversando com um amigo concordamos que a melhor arma é fazer cara de "a pessoa mais feliz do mundo" pra evitar problemas com essa gente.


Posso continuar espremendo saudade, segurando os gritos que vem até a boca mas que não saem pra não quebrar os vidros, posso continuar olhando as pessoas por aí e imaginando se elas têm gatos ou cachorros em casa, ou qual delas já sentiu uma dor tão grande como essa. No metrô eles botam uma faixa amerela como advertência, eu passei da faixa amarela que tava na minha frente e deu merda. As cartas estão todas aqui na minha frente
Romantismo, é disso que falava o livro. Sobre a vida e sobre a importância dela, ou que damos à ela. Falava também de brutalidades mas por fim tudo ainda acabava em vida. Ele, o autor, com muito do personagem, também valoriza o que a vida lhe dá, o que dela pode arrancar e se fazer criar. Na última página ela entrou na sala reboland

18.7.08

Já chamou sua mãe de mamãe? Pai de papai? Titia? Vovó? Eu chamo minha mãe de senhora, a dona da casa, a mulher que chora escondida pra não magoar os outros. Ser filha é a pior coisa que me aconteceu. Descobrir isso sozinha foi a segunda pior coisa que me aconteceu. Tenho um pai e uma mãe, tenho dois irmãos, uma avó paterna lá no céu e um par de avós maternos que dançam todas as noites de sábado no baile dos aposentados. Tenho um avô paterno que não vejo muito mas que me escrevia cartões e cartas no Natal. Quem me conhece sabe das dificuldades que tenho com a família, ou melhor, com as pessoas que fazem parte do álbum de família.

Não lembro da última vez que chamei meu pai de pai sem me esforçar de um jeito sufocante. E quando telefonei pro meu avô viúvo pra saber da minha tia que tem quatro anos. Não lembro quando não senti raiva da minha mãe mais que uma vez por dia. Nunca fui uma garota problemática, eu nunca dei problemas a eles e isso é não ser problemática. Sempre fiz as coisas do meu jeito, do jeito que me chatearia menos, mas que me chatearia de qualquer jeito.

Na minha caixa de E-mais Importantes

'Amigos,
na próxima segunda-feira (dia 21, 19:30hs, no auditório do MASP, grátis) tem LEITURA da minha 2a peça: "Explicando a morte para crianças de seis anos". Na abertura, leio uns dois ou três poemas acompanhado do gaitista Flávio Vajman. Do que se trata a peça? Bom, o cartaz (abaixo ou anexo, não sei como vai chegar aí pra você, pois estou enviando este e-mail direto do provedor) feito pelo grande desenhista e amigo Carcará, acho que já diz alguma coisa. Apareçam.
Abraços,
Sergio.'


Veja a programação e reserve sua senha AQUI.

17.7.08

Joaquín Salvador Lavado

Ou simplesmente, QUINO.



“A escola era uma antecipação do serviço militar. Formar filas, manter a distância. Como a escola não era mixta, para mim, estar com homens é como voltar para a escola ou fazer o serviço militar, por isso também prefiro as amigas mulheres. Vivi o serviço militar como Felipe, pensando desde pequeno: ‘Algum dia vai ser a minha vez e vai ser horrível’. Sofri muito, mas tive que fazê-lo só por 8 meses e na cidade de Mendoza mesmo. Depois de fazer o juramento à Bandeira todas as noites, eu podia ir pra casa, mas acabava dormindo no quartel porque tinha medo de pegar no sono no dia seguinte. Eu estragava o meu domingo pensando que à noite teria que voltar ao quartel. Até hoje me acontece o mesmo. Costumo estragar o meu presente pensando no que me espera no futuro. Típico do Felipe. Não tenho mais o sonho recorrente de fazer o serviço militar, mas o tive até os 50 anos. Era sempre o mesmo sonho, que estava fazendo o serviço militar e dizia: ‘Mas eu já o fiz’. Então falava com o oficial e o cara me dizia: ‘Bom, rapaz, mas já é julho. Fica na tua porque se você for começar a querer provar que já fez o serviço militar, você vai acabar ficando aqui quem sabe até quando’. Tenho sonhos bonitos também. Há uns dois anos acordei e disse para a Alicia: ‘Sonhei uma coisa tão linda que se eu soubesse que as drogas me fariam passar pelas mesmas situações, eu me drogaria’.”
Uma Amiga me disse que tá com problemas, os problemas dela são daqueles que tiram a paz da gente, saca? Uma outra disse que tá cansada. E minha mãe voltou de viagem com mais disposição, mas ainda tá com os mesmos problemos dentro do bolso.

Estou lendo um livro do Jack London e confesso que estou fissura nesse livro. O que tem haver os problemas das pessoas citadas? Nada. Esse é o meu problema. Eu contorno todas as coisas e arrumo um jeito de escapar com um mínimo de ar reservado nos pulmões.

Hoje quando saí da minha cama meu corpo doía e minha cabeça latejava, a sinusite veio nos últimos dias e tentou me render, mas hoje eu não exclamei "oh, como dói meu corpo" eu disse "poxa, como é que fui parar naquele lugar?" o lugar era num sonho que eu acho que tive, e que não esqueci pra lembrar no fim da tarde como sempre acontece, e já não dói mais nenhum centímetro. Hoje eu resolvi andar pela sombra.

Uma Amiga escreveu que é bom estar viva. Outra não me liga mais ha quase um ano. Um amigo que cuida da saúde nem imagina o quanto guardo no peito mexicano. Ah, uma amiga me prepara a cama e um racambole com palitos de fósforo. Ele atende o telefone, diz que está indo mijar mas que pode me ouvir, e eu digo apenas que estou com saudade. E hoje eu acordei querendo só pensar em todos eles.

Um Amigo me disse que sente-se sozinho na sexta. Pergunto se ele ouve o barulhho da noite nesses momentos, e se ouve, então não percebeu que já tem o melhor de qualquer outro dia. Meu irmão está desempregado, mas continua sendo um cara bacana, entende?

Um Amigo morreu de AIDS, o Chico. Uma Amiga teve gêmeos e são dois japoneses negrinhos.

Outro, que não é meu amigo, disse que vai pra Argentina. Meu Amigo quer morrer no Rio de Janeiro.

Um Amigo me convida pra trabalhar com ele e eu digo que pensarei no assunto. Os amigos querem ajudar de algum jeito. Mas o nosso problema nunca terá solução...

16.7.08

quero uma calça de veludo azul

talvez combine com sapatos coloridos. ou botas, que cubram metade das minhas pernas. mas ninguém pode saber, porque ninguém (que é sempre alguém) entenderia. é como se fizesse poemas, daqueles redondos que ninguém entende. sei que não é culpa deles, os ignorantes, mas também não é culpa minha. me calo. mas fazer um poema que combine calças com sapatos ou dizer pra uma mulher o quanto ela envelheceu não é fácil. é pensar na dor do outro com complacência, a mesma que não poderá sentir pela sua (ou pela minha). os poetas choram tão baixinho que poucas vezes você conseguirá ouvi-los. é como se fossem mudos, os poetas. poemar redondamente lembra uma canção antiga, daquelas que o rádio teima em tocar quando seus ouvidos já não suportam mais nada. em círculo, em círculo, em círculo. não conte até três, vista sua calça de veludo azul, esqueça rimas. não conte até três em voz alta, apenas pense. e imagine meu poema sobre amores, dores, sabores e bolores.

tão bonito que seria o último, o único.

14.7.08

balões e guarda-chuva, quando andei do lado de lá


de tudo que fica guardado dentro da gente tenho certeza que a pior parte é a adolescência. quando a gente quer provar pra eles que sabemos a diferença entre solidão e ficar sozinho no quarto terminando um daqueles trabalhos de geografia. mas se disser que não sinto falta posso estar mentindo. porque eu andava na chuva sem preocupação com analgésicos e atestados médicos. comia qualquer coisa mergulhada no óleo queimado e virava a cidade ao avesso atrás de maconha, cocaína e bucetas. hoje eu preciso me apressar no transito pra não perder o emprego, naquele tempo o emprego e eu não conseguíamos nos entender. minhas roupas secavam no corpo no sofá de um amigo, ao lado da garota mais bonita do último bar. agora os sapatos esmagam meus dedos que ficaram largos e disformes com tantos anos de allstar. ela hoje diz quase não me reconhecer, ela ria da minha barba bem feita e se diverte com as minhas preocupações com a conta de água, com redução de energia, ração pros cachorros. carro e metrô, correria no corredor, o chefe e os tapinhas nas costas. pouco dinheiro e uma mulher bonita dizendo que você é o cara mais bacana do mundo. parece que tudo tá certo mas eu sinto falta daquele tempo, porque eu sabia que tudo ia passar logo e eu teria os amigos e os discos, e de algum jeito tudo ia terminar bem. mas agora pra todo lado que olho vejo paredes em preto e branco e pouca gente se divertindo. os cachorros enxergam assim, né? em preto e branco. porque eu lembro que do ônibus eu via muito mais cores nos guarda-chuva e nos balões, eu via mais balões. se eles me pergutarem a diferença de solidão, hoje, eu vou dizer a eles que estou atrasado, pra discutirmos isso outra hora. entendeu?

10.7.08

Bife com muita cebola e batatas cozidas. Eu gosto cozidas. Se quando você chegar eu ainda estiver aqui te ensino como cozinhar as batatas, assim do meu jeito. O que é mais importante nisso é não esquecer de NUNCA descascar batatas antes de botar na panela. Como não esquecer de me contar algo antes das coisas acontecerem na frente dos olhos. Você sabe do que tô falando garota.


A comida diz muito da gente. Quando a gente prepara é sempre bom experimentar antes de servir, porque segredinhos escapam e queimam a língua. Se comemos na casa de alguém, porque nos restaurantes a coisa é diferente, é bom olhar bem pro prato e pros talheres e se tiver um guardanapo sobre a mesa tenha cuidado. Qualquer deslizer e você se entala com um osso de galinha e poe morrer. Ou coisa pior.


Bife, entendeu? Daqueles que você nunca teve tempo pra preparar, daqueles que faziam a gordura se espalhar pelo fogão pela parede e por todo seu cabelo. Daqueles, garota, que você nunca queria fazer. Ao contrário das longas noites chorando por uma vez, ou duas, que eu não quis te acompanhar. As batatas vão amolecendo e a casca vai desprendendo. Nós com o tempo vamos nos desprendendo com a mesma rapidez. Quando eu falo de cozinhar eu não estou falando só no arroz-feijão-temperos-abobrinha. Minha conversa está fora do caldeirão. Falo das coisas que perdemos por aí e nunca mais vamos encontrar. Como muito do que já botamos pra dentro do peito e depois tiramos. Óleo quente só doura por fora, fica bonito de ver, mas por dentro, por dentro é tudo crú, dá dor de barriga. Tudo que fazemos por fora fica muito bonito, tem jeito, dá até pra sentir um alívio. Mas por dentro a massa crua faz nausear por dias. Consegue perceber que a culinária é um reflexo da vida? Eu tenho pensado muito nisso. Desde o dia em que você decidiu parar de comer carnes. E foi embora por esses mesmos dias.

7.7.08

Dei duas voltas de bicicleta em torno do parque do Ibirapuera. Domingo de sol alto. Você já foi no parque Ibirapuera? Uma volta só já me deixaria com esses anos de boemia em frangalhos. E a bicicleta era uma daquelas caloi ceci com molas no selim, uma beleza mas nada moderna. E com aquelas curvas e subidinhas e descidinhas eu precisaria de umas marchas, mesmo sem saber como usar isso. Tinha só uma garrafa com água que eu enchia de quando em vez naquelas torneiras cheias de terra. Eu parei numa sombra e encostei minha senhora ceci num banco desses de cimento e fiquei juntando um ar ali em frente ao lago com o chafariz do pão de açúcar. Umas crianças jogavam cheetos pros patos e xingavam quando estes rejeitavam "pato burro, é cheetos, viu" uma garotinha de uns oito anos gritou. A mãe, o pai, a irmã mais velha, a tia velha (que tinha uma curva sensacional) aplaudiram a menina e fizeram um gesto pro pato, não entendi o gesto e confesso que não gostei daquilo. Isso ainda na primeira volta antes de eu encrencar com o sorveteiro que me cobrou um real num picolé de abacaxi. Entenda que eu não reclamei do valor, acho até que se fosse eu cobraria bem mais pra ficar aguentando aquele sol e aquela molecada gritando tiô. Pedi um de uva e não tinha, um de limão e o último tinha ido ha dois minutos, pedi de morango, coco, maracujá, abobrinha, batata-doce e nada, tudo a alguns minutinhos, ele me disse. "o que é que tem aí de uma vez por todas?" o cara de viseira, camiseta com a cara sorridente do último político do povo, com cara de quem não tá nem aí "ó, eu só tenho de abacaxi" porra "e não me disse logo porque?" adivinhe "o moço não disse que queria de abacaxi". Daí o um real mais sofrido da minha vida.
O parque do Ibirapuera aos domingos fica um inferno. Tem gente que deita na grama pra tomar sol, e quase tira a roupa. Uns moleques maconheiros que enchem o saco gritando e correndo e pulando pra todos os lados. Uma criançada de patins, bicicletinha e patinete. Mães correndo com suco e sanduíche pra todo lado. Namorados em primeiras tardes trepando nos cantos mais vazios. Ingênuos, aos domingos não existem cantos mais vazios naquele lugar. E tem os estudantes metidos a intelectuais que sentam embaixo de árvores e folheiam livros de quinhentas páginas com os olhos circulando em volta. Alguém deveria dizer a eles que isso não é necessário. Pedalo, pedalo, pedalo, outro banco de cimento e Elma, a garotinha da Chips, agora fora substituída por um velho de óculos escuro que sentou-se perto dos patos mas não tava nem aí pra nada daquilo. Ele acendeu seu cigarro e jogou o palito no lago, talvez quisesse se divertir com um pato engasgado. Mas ele não se movia, ele puxava toda fumaça que seu pulmão podia suportar e soltava em sincronia, fazia até desenhos no ar, e eu os via. Ele parecia um cara normal. E saltei na bicicleta agora completando a segunda volta, e última porque aquilo já era demais pra mim. Passei por onde um cara magro de olhos amarelos aluga bicicletas e perguntei quanto conseguiria naquela caloi ceci com molas no selim. Uns cinquenta paus - o cara me disse com uma cara desconfiada mas bem interessada. Não pensei duas vezes, deixei até a garrafa com água de brinde pro magrelo. Gastei metade da grana com o táxi pra casa. Tá valendo, o magrelo ainda sorriu sacana acreditando que eu não sabia que minha ceci valia bem mais, era raridade já. Que seja, precisava sair logo dali e esquecer os patos, as garotinhas da Chips, os moleques maconheiros e sorvetes de abacaxi.
Eu cheguei na minha casa antes do final da Família Dinossauro. Quer melhor negócio?
bilhete n°1 (pra mim mesmo)
Deixei Rosana presa com alguns alfinetes numa caixa de sapatos. Hoje fazem duas semanas que não a beijo nos lábios. Fodemos a cada trinta minutos, porque tenho dificuldade com a ereção. Coisa de infancia, quando minha mãe metia aquela colher de pau entre minhas pernas porque eu ficava pedindo pra minha prima levantar a saia. Só queria saber se as bonecas eram tão sem graça á toa. Doía muito mais quando ela me pegava duas ou três vezes no mesmo dia. Botei Rosana no colo e lhe expliquei que eu mando aqui, e que devia andar sem roupas pela casa sempre que eu estivesse. Ela é tão obediente. O castigo pra quando não fizer o que digo é a caixa de sapato, e os alfinetes. Não que ela mereça tanto sofrimento, é que me sinto entediado, e já não tenho ereções como no tempo que era jovem.

2.7.08

Preciso dar um jeito nisso. Não, eu preciso digerir uma decisão que tomei. Porque é mais simples do que a gente pensa, é mais bonito do que a gente enxerga. Deixar de escrever a mesma frase no vidro sujo do carro "lave-me por favor", parar de tocar a campainha e sair correndo. Jogar mais toalhas na máquina de lavar quando ligar no nível alto, aproveitar a água do segundo enxágue pra lavar o chão. Fazer mais coisas simples ou simplificar mais as coisas antes de arrumar malas e escrever cartas e pedir um abraços. Preciso tomar coragem pra deixar essas merdas de lado e embarcar logo de uma vez. E eu sei que vou me fuder e vai ser quase desesperador no começo, e durante todo o resto. Mas não é bom me arriscar nos espinhos, estes de agora eu digo, pois é bem mais simples do que a gente pensa. Ô! se pensa. Telefonei pra uma pizzaria e disse que estava com fome e que comeria uma pizza grande de mussarela com rodelas de tomate e bastante orégano, e com o molho bem vermelho esparramado nas bordas bem assadas, e azeitonas por cima, (minha boca salivando) aí o atendente falou "ok, qual seu endereço?" e eu disse pra ele que não ia fazer um pedido, só queria parabenizar a pizzaria pelo atendimento e dizer que compraria uma assim que tivesse o dinheiro, mas que seria sem dúvidas a minha primeira opção e ele não pareceu muito satisfeito comigo "você parece ser bem grandinha pra ficar passando trote, vai arranjar o que fazer ô" e desligou o telefone batendo o gancho com força. E foi o que fiz, arranjei o que fazer. Tomei uma decisão que vai me dar alguma dor de cabeça e talvez alguns atrasos. Só espero me divertir com isso, e ficar feliz o máximo de tempo possível. E não vejo a hora de ligar denovo pro cara da pizzaria, espero que ele não desligue na minha cara desacreditando no meu pedido que dessa vez vai ser um pedido de verdade.

30.6.08

nem todo dia

Sabe o que é engraçado? As pessoas perguntam se você está bem, mas elas não querem saber disso só querem que você saiba que elas não estão. Vem aquela senhora gorda no ônibus, e isso não é nenhum tipo de preconceito já que ela é mesmo uma senhora e está gorda, e fica te encarando pra ganhar seu lugar, ela fica com aquela cara de coitada e você se levanta não por educação mas pra ela parar de te encarar daquele jeito. Aí você se equilibra cheio de bolsas, livros, sacolas e ela não te oferece ajuda educadamente, como você fez a pouco, ela se encosta desleixada e ronca. E tem aquele cara "engraçadinho" que sempre está na fila da padaria na sua frente, sempre, e ele usa roupas super coloridas e muito, mas muito gel nos cabelos, ele se vira e começa a puxar papo com você sobre a balconista gostosa. O cara nem te conhece e bate nas suas costas e te chama de "amigo". A balconista te olha com pena por estar passando pela mesma situação que ela passou a poucos minutos, e que passa todos os dias sabe lá desde quando. E ele te diz as horas pra mostrar o relógio de ouro que o patrão lhe deu como prêmio de final de ano. Ele não desconfia que nada disso te interessa, que você só está ali pra comprar um pão na chapa pra viagem pra segurar a onda até a hora do almoço. Isso não é engraçado. O porteiro do seu trampo faz a mesma piada a trezentos e cinquenta anos e ri sozinho. O elevador abre a porta, você entra e aperta o cinco e a porta se fecha, e ele tá sem fôlego e sozinho. O seu chefe dorme todas as noites numa cama das mais confortáveis, acorda com suco de laranja natural, com adoçante, frutas descascadas sobre uma bandeja caríssima (e não tô falando de banana nem mexerica), torradas e biscoitinhos deliciosos servidos pontualmente. Toma banho numa daquelas banheiras enormes com sais relaxantes e o caralho, veste uma roupa diferente a cada dia, não tem aquele negócio de virar a cueca. Ele entra no carro, 0km, e não mais que em vinte minutos está sentado numa cadeira reclinável com aquela pergunta estúpida de sempre "que cara é essa, rapaz?". Você sabe que é melhor não responder, que qualquer palavra sua vai ser ignorada com um telefona importante e cifrões e cifrões. "um resfriado, logo melhora" e mesmo sem ele ter te ouvido ou acudido você vai pra sua sala com a certeza de que não é tão ruim pensar em assassinatos. Mas não vejo nada de engraçado numa manhã assim. A secretária do seu chefe, aquela mulher de quase quarenta, divorciada, mãe de uma adolescente linda e problemática, ela não acordou tão bem quanto você, mas ela pensa que sim e talvez isso a faça feliz. Traz papéis empilhados com datas ultrapassadas e insiste que o atraso é sua culpa, e fala das contas, do filho da puta do ex-marido e sai correndo pra telefonar pra uma amiga. A rotina diária não é nem um pouco engraçada. Falo disso porque acho que seria mais fácil se conseguisse me divertir um pouco. Sabe o que poderia ser engraçado? Ao meio-dia, aquele seu "colega animado" dissesse que não poderiam almoçar juntos. E lá no restaurante costumeiro as pessoas sentassem longe umas das outras. A televisão poderia estar virada pro outro lado, ao que você sentou, e talvez alguém concordasse contigo que Tom e Jerry é mais agradável que crianças degoladas no telejornal. Entende agora, não tem nada de engraçado. Eu poderia parar aqui, e resumir minha carranca ao meio-dia, mas sabe aquela senhora do café? Aquela mulher baixinha de avental e touca? Ela não perde nenhum capítulo da novela. Fico imaginando onde uma pessoa que sustenta quatro filhos e três netos, tem também o marido inválido, onde essa pessoa arruma tempo pra novela. Como eu sei? Ela me conta cada capítulo, eu mandaria pro inferno se ela não tivesse os netos e marido inválido. A minha vida não se resume a sentar nessa cadeira e ouvir estórias, nem em almoçar com um cara que frequenta barzinhos descolados com a "galera da facul", tenho meus problemas e eles não batem ponto, eles ficam o tempo todo comigo, dia e noite. Ninguém precisa saber disso, mas que não me cobrem piadelas e sorrisos forçados. Que minha cara toda amassada não incomode ninguém. Tenho um gato que pegou sarna sei lá onde e acho que eu peguei também. Talvez se contasse isso todos se afastassem de mim. Teria dois metros de área livre em torno da minha vida (pelo menos durante oito ou dez horas diárias).
Mas sabe o que é realmente engraçado? Quando eu chego em casa e vejo o gato se retorcendo por causa da sarna, todo azulado e parecendo uma galinha depenada, daquelas galinhas estranguladas. Ele pára um instante e me encara, e faz algum tipo de sinal pra mim como pra dizer que tá tudo bem, que ele cuidou da nossa casa e mastigou todos os ratos. O que não dura mais que vinte segundos, aí o sarnento se desocupa de mim. Sem me perguntar nada, sem me encher o saco com suas escapadas noturnas em busca de uma felina no cio. Isso, entre eu e ele, é engraçado. Mas não todo dia.

27.6.08

É que se eu tocasse a campainha e você abrisse a porta eu sairia correndo. Você mora numa avenida e provavelmente algum caminhão passaria por cima de mim, porque é claro que eu tropeçaria na calaçada toda esburacada com aquele cimento fodido. Foi por isso que eu passei o bilhete por debaixo da porta durante a noite. Foi por pouco, tinha um cachorro latindo sem parar, tive que dar dois chutes pra ele ficar quieto. Quase estragou tudo. Ainda bem que você não acordou, porque você gosta de cachorros e é certo que ficaria muito bravo comigo, porque acho que quebrei o focinho dele. Mas o bilhete ficou lá. Agora isso, você nem leu ainda e já quer quebrar tudo. Isso sempre me incomodou em você. Telefonei pra sua irmã e disse pra ela umas verdades, mas não brigue com ela pois fui eu quem ligou. Sabe, eu ia te dizer pessoalmente mas fiquei desconcertada por caiu um dente meu, bem na frente e talvez você desse risada. Mas o pior foi mesmo esse bilhete que você não leu. Porque eu quebrei as fuças de um vira-lata pra não ter que dar de cara com você e não adiantou nada. Olha eu aqui sem dente na frente te dando explicações fajutas. Naquela noite eu entendi cada vírgula do que me disse. Quem não entendeu nada que se foda agora, porque eu tô indo embora. E se você não quiser ler essa porcaria de bilhete de uma vez por todas, dane-se.
Era só mais uma daquelas minhas cansativas declarações de amor.
Disseram que lá embaixo, no meio do abismo, vai ter uma festa, mas eu não quero ir


Eu não ia mais falar nele. Não aqui e não por bastante tempo. Porque ele não é um problema meu. Escrevi uma vez que entendia essas coisas que nunca páram de acontecer, mas não entendo, tentar entender é algo que dói mais que viver nisso. Não é o casa de desculpar ou perdoar, não é o casa de escrever uma carta e deixar lá debaixo das camisas na gaveta. Não. Já deixei de sentir. Guardo um pouco de raiva sim, afinal, não fui eu quem disse sim ou que escolheu nomes e móveis. Fui crescendo entre socos e palavras que jamais serão esquecidas. Mas o que aconteceu comigo foi o contrário do que acontece por aí, eu quis sair de lá, quis deixá-los sozinhos e viver o que tinha pra mim, do lado de lá as pedras vinham com força e eu já cheguei a pensar que talvez fosse mesmo minha culpa e que eu tinha que resolver. Não, eu só era "pequena" demais pra enxergar por trás daqueles muros. Ontem ele estava no sofá assistindo o jornal com aquela cara de quem só está esperando uma brecha. E eu fujo dessas, eu me escondo nos cantos e tapo os ouvidos. Mas ontem eu estava preparando o molho do macarrão, molho pronto com carne moída, atenta no macarrão cozinhando na panela maior pra não grudar. Tinha cozinhado batatas e tava decidindo se faria um purê, o que não orna com macarrão mas eu gosto assim. Ele entrou na cozinha com uma conversa sobre um cara que pegou um livro meu emprestado e disse que vai devolver. Foi só isso que ele disse, que o cara vai devolver. continuei circulando a panela com a colher, o macarrão quase no ponto, nem duro nem derretido. Saiu e voltou com um livro grande de capa verde escuro, um livro que ainda não tinha visto na casa. Folheava o livro perto de mim chamando minha atenção pra algumas páginas onde umas fotos muito bonitas estampavam aves de todas as cores. Urubu-de-pescoço-preto, saí-azul, urubu-caçador-de-macaco, e ia falando onde já tinha visto aquelas aves, e falava comigo como se uma conversa daquelas fosse tão comum entre nós dois. Como se eu fose me sentar a mesa e lhe servir aquele macarrão todo feito as pressas entre risos e confidências. Ao mesmo tempo que tinha vontade de perguntar se ele já tinha visto um urubu comer um macaco tinha vontade de enfiar aquele livro tão bonito dentro da água fervendo, antes de sair dali correndo pros cantos. Mas ele deve ter percebido que não estava funcionando, que seria preciso muito mais pra arrancar de mim uma palavra sequer. Apenas saiu da cozinha e voltou pro sofá, resmungando vez ou outra, com aquele olhar perdido em anos atrás. Eu me sentei sozinha a mesa, eu me servi daquele molho pronto com uma vontade incontrolável de chorar. Não estava triste, eu só não queria estar sozinha ali, não ali. Enchi o cesto com umas roupas sujas e subi as escadas pra lavanderia. Eu lavei roupas pra não chorar, porque não consigo fazer duas coisas ao mesmo tempo ali. Separei as cores e deixei as meias que estavam um tanto encardidas de molho na água sanitária. Quando entrei denovo na casa a televisão estava desligada e nenhum barulho além do meu chinelo se ouvia na sala. Meu quarto não é nenhum refúgio, eu não fico mais feliz me enganando. Preciso de um emprego novo, de menos espaços, de mais diversão. Só não queria ficar agora com essa dúvida sobre urubus e macacos e tantos anos sem nenhuma palavra. E eu não quero mais. Quem sabe um dia alguém nos veja rachando uma cerveja por aí, mas não quero esperar esse tipo milagre acontecer. Matei muita coisa boa enquanto me preocupava com raiva e angústia. Fiz pessoas que me são muito caras desistirem de mim porque eu tava misturando tudo. Desculpa aí gente!

Hoje pela manhã antes de sair de casa me perguntou "sua mãe volta quando?" e de uma vez por todas eu tapei meus ouvidos. Porque o problema dele é problema de homem. Não de pai.