As pessoas.
Elas me emocionam. Essas e não aquelas. Porque eu fico remoendo uma porção de angústias e elas me jogam um balde água fria. Tenho certeza que não sou a única. Mas hoje foi diferente, talvez porque começou a chover, e toda vez que chove eu fico assim. Pensando nas pessoas. Nelas, e nunca naquelas outras.
30.5.08
28.5.08
Ela deu as caras por aqui enquanto eu tinha ido comprar cigarros. Sabia que encontrar comigo não era uma boa idéia. Não ainda. Até senti uma raiva escondida por não ter me deixado nenhum recado, não ter deixado nada. Nem uma daquelas calcinhas velhas rasgadas que eu tanto gostava. Pensar que foi melhor assim vai evitar que eu me aproxime da janela. Morando no segundo andar eu só traria mais problemas e a afastaria ainda mais (ela tem horror a hospitais e a pessoas doentes). Vejo o cachorro deitado debaixo da mesa da cozinha, balançando seu rabo, me olhando com olhos piedosos. Filho da mãe, sempre do lado dela fazendo festa, rosnando pra mim, fodendo sua canela. É daquela vagabunda que esse maldito deve sentir piedade.
Tenho tempo de sobra pra assistir meus filmes, pra pensar nas contas, pra arrumar o quarto. Que fica estranhamente silencioso quando deito sozinho na cama que continua desarrumada desde que... merda.
Dá pra ouvir as sirenes dos carros da polícia daqui. Ouço passos impacientes no andar de cima. A mulher que mora lá tem uma perna com muita carne e me diz bom a qualquer hora do dia ou da noite, não é boa da cabeça. Como todo mundo.
Tô cansado de tudo isso. Preciso fazer algo antes que ela resolva voltar. Não suportaria a compania dela com aquele cão fodendo suas canelas. Vou matar o cachorro. Enterro na praça no final da rua e digo que fugiu. Ela não virá mais aqui. Posso deixar a porta da cozinha escancarada sem ser observado. Piedade é algo que me enoja.
Tenho tempo de sobra pra assistir meus filmes, pra pensar nas contas, pra arrumar o quarto. Que fica estranhamente silencioso quando deito sozinho na cama que continua desarrumada desde que... merda.
Dá pra ouvir as sirenes dos carros da polícia daqui. Ouço passos impacientes no andar de cima. A mulher que mora lá tem uma perna com muita carne e me diz bom a qualquer hora do dia ou da noite, não é boa da cabeça. Como todo mundo.
Tô cansado de tudo isso. Preciso fazer algo antes que ela resolva voltar. Não suportaria a compania dela com aquele cão fodendo suas canelas. Vou matar o cachorro. Enterro na praça no final da rua e digo que fugiu. Ela não virá mais aqui. Posso deixar a porta da cozinha escancarada sem ser observado. Piedade é algo que me enoja.
26.5.08
Fico duas ou três horas na padaria da esquina, perto da avenida Caxias onde as putas dividem calçada com os gatos cheios de sarna que só tem sossego quando o sol vai embora. Todos os dias da semana depois do trabalho. Saio cedo, antes que ela acorde, antes que a língua dela me dê um nó na garganta e me faça pensar em assassinato. Isso não é uma coisa legal pra se pensar pela manhã. Como um sanduíche de frango com salada, bebo um refrigerante e fico por ali escutando as histórias que o balconista nunca deixa de me adiantar. Bem melhor que chegar em casa e encontrar as luzes acesas e ela, minha mulher, perto da porta com os olhos abertos e cheios de compaixão. E ter que ficar ouvindo suas aventuras de dona de casa. Ter que ficar entusiasmado com as promoções do supermercado ou com uma fofoca da vizinhança. Fiz a assinatura de uma revista pra que ela tenha algo que a entretenha e esqueça do nosso casamento. Mas piorei tudo com isso. Porque ela espera que eu tenha saco pra saber do horóscopo, pra saber qual o próximo capítulo da novela das oito. Fiz amizade com o balconista que me conta como faz pra prolongar o orgasmo da namorada e da amiga da namorada. Pelo menos ele me deixa dormir.
Qualquer dia eu perco a paciência. Qualquer dia ela vai descobrir. Sim, porque antes de chegarmos a esse capítulo da história ela era a mais perfumada de todas. Até seus pés eram perfumados. Tinha um sorriso branco e gostava de me chupar dentro do carro. A conheci quando fui palestrar na faculdade onde cursou artes. Eu já tinha me livrado da primeira mulher. Eu não queria estar agora reunindo todas essas lembranças porque detesto sentir enjôo.
Não posso mandá-la embora. Teria que lhe pagar uma pensão, talvez o aluguel e ela precisaria de um convênio médico. Muito melhor continuar com o sanduíche de frango com salada. Ela, logo arranja alguém que a deixe cansada o suficiente pra se lembrar de mim, desde que ele não use minhas cuecas nem a faça querer gastar mais. Por mim estaria perfeito. Tudo, tudo pra não ter mais que engolir facas ao ouvir coisas do tipo "Sempre quis montar a cavalo. Acho bonito aquelas mulheres com aquelas roupas, aquelas botas, aquele chapéu. É chapéu o nome? Porque eu digo chapéu, e é lindo." Não sinto ciúmes, não me importo em chegar duas ou três horas mais tarde durante a semana. Aos sábados posso até levá-la a restaurante e clubes. Domingo não, é dia de visitar minha mãe. Não se bicam, desde o dia do casamento. Coisas de nora e sogra, coisas de mulheres. Nada me faz ter mais prazer que as conversas com a velha. Decidimos, minha mãe e eu, que é melhor mesmo deixar como está.
A padaria vai fechar na semana que vem, reforma na cozinha, ou coisa parecida. Sinto por ela, que não vai ter muito tempo pra se despedir ou se confessar. Os felinos sarnentos terão mais sorte. Eu sinto muito, mas vai ser impossível me impedir.
Qualquer dia eu perco a paciência. Qualquer dia ela vai descobrir. Sim, porque antes de chegarmos a esse capítulo da história ela era a mais perfumada de todas. Até seus pés eram perfumados. Tinha um sorriso branco e gostava de me chupar dentro do carro. A conheci quando fui palestrar na faculdade onde cursou artes. Eu já tinha me livrado da primeira mulher. Eu não queria estar agora reunindo todas essas lembranças porque detesto sentir enjôo.
Não posso mandá-la embora. Teria que lhe pagar uma pensão, talvez o aluguel e ela precisaria de um convênio médico. Muito melhor continuar com o sanduíche de frango com salada. Ela, logo arranja alguém que a deixe cansada o suficiente pra se lembrar de mim, desde que ele não use minhas cuecas nem a faça querer gastar mais. Por mim estaria perfeito. Tudo, tudo pra não ter mais que engolir facas ao ouvir coisas do tipo "Sempre quis montar a cavalo. Acho bonito aquelas mulheres com aquelas roupas, aquelas botas, aquele chapéu. É chapéu o nome? Porque eu digo chapéu, e é lindo." Não sinto ciúmes, não me importo em chegar duas ou três horas mais tarde durante a semana. Aos sábados posso até levá-la a restaurante e clubes. Domingo não, é dia de visitar minha mãe. Não se bicam, desde o dia do casamento. Coisas de nora e sogra, coisas de mulheres. Nada me faz ter mais prazer que as conversas com a velha. Decidimos, minha mãe e eu, que é melhor mesmo deixar como está.
A padaria vai fechar na semana que vem, reforma na cozinha, ou coisa parecida. Sinto por ela, que não vai ter muito tempo pra se despedir ou se confessar. Os felinos sarnentos terão mais sorte. Eu sinto muito, mas vai ser impossível me impedir.
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