Então a gente soma tudo isso e divide por dois. Ou fracionamos, enfiamos números primos na chave e passamos ao segundo problema. E se fosse só isso, fácil assim, era só a gente assumir nossa genialidade com a matemática e desistir do amor. Pronto, você me fez encucar com equações. Logo eu que nunca fui muito bom na matemática, e da física só lembro da professora que tinha uma bunda redonda, linda, que sufocava em vestidos de verão. Verão é muito perto das férias, lembro pouco da professora, menos ainda de você que saiu correndo do ponto de ônibus e embarcou num táxi. Os taxistas são quase íntimos, as vezes deixam a gente no pior lugar do mundo e "boa noite!" seguem a vida cobrando bandeira dois.
Eu queria ser bom em alguma coisa, como os caras que você costuma gostar. Caras que nunca te ligam antes do meio dia, caras com cheiro de calçada do centro, caras que topam qualquer coisa menos levar alguma delas a sério. Se você me quisesse como a esses caras eu até toparia, mas seria uma subtração e eu não entendo nada de matemática, como já te disse. Podíamos namorar em filosofia mas isso ia dar no saco. Você usava pijamas como os que usa agora? Acordava pelada no meio da noite, andando em círculos pelo quarto questionando datas no calendário, pensando em futuro, toalha molhada pendurada no box de vidro? Você já tinha trinta anos quando nasceu, sabia? As mulheres nascem assim. A minha mãe já nasceu assim. Ainda espio por debaixo do lençol pra ver se voltou. Se ainda gostaria que eu deixasse a luz acesa enquanto você joga a roupa por cima da poltrona. Eu queria ser um daqueles caras que você gosta só pra ir embora depois de gozar dentro do seu umbigo, como me contou uma vez e afirmou que foi a coisa mais absurda da sua vida. Porque eu não fui nem absurdo, nem magnífico, eu só te emprestei uns trocados pro táxi. E você não voltou mais.