Camila tinha mais que o rebolado mais bem ensaiado do bairro. Tinha sobrenome de pai sumido e apelido de filha única. Mas tinha irmãos, e uma porrada de namorados. Camila sabia que encantava subindo escadas, era só o que fazia da vida. Tinha decotes pra marmanjo chorar no escuro e falava batendo a língua nos dentes amarelados cheirando a chiclete de tutti-frutti. Camila nascia todo dia e morria porque queria, porque só Camila podia.
Camila que gostava de passarinho solto, de gato no telhado, de versinho de amor soletrado. Camila que só não gostava de mim, e que nunca dizia uma palavra nem mesmo no bom dia.
Mas Camila, que nadava no rio que sua cabeça criara, essa eu sabia ser a mais bonita. Que forçava pra esconder o sorriso escapado do susto, que dançava sozinha debaixo de poste de avenida.
Camila tinha mais que todo aquele cabelo enrrolado, senpenteando no pescoço, me matando de desgosto por não poder puxar Camila pro meu lado, o lado oposto.
Camila que fazia festa quando aparecia o dia só pra botar saia curta e passar esmalte vermelho na unha comprida. Eu aqui na janela do quarto, pensando em Camila que não aparece ha dias. Sonhando Camila em todas minhas fantasias. Ah! Camila, como te queria...