tô puta, tô cagada, e confesso que sou uma ursinha carinhosa desmamada*
Queria repousar minha bunda num sofá daqueles top de linha, assistindo qualquer programa babaca na tv, porque a essa altura já estaria arrastando um sono dos mais prazerosos. E não ter que passar metade da minha vida dentro de um ônibus lotado ouvindo alguma coisa delicious lálálá num volume insuportável saindo de um celular que foi parcelado em vinte anos. E esse celular não é o meu, que tenho usado como relógio ha mais de um mês porque a VIVO resolveu cortar os serviços só porque não paguei a conta. Queria comer feijoada ‘podrona’(como o Nilo disse pro Ademir) cheia de orelha, pé, focinho, tornozelo (isso vai na feijoada?), mas não gosto de feijoada e prefiro ficar num arroz-feijão-bife-salada-de-tomate e coca-cola. O banco do Brasil podia parar de me enviar cartões, são milhares deles. Visa internacional com chip, Mastercard internacional com chip, Visa nacional com chip e desconto na anuidade, cartão de débito já me mandaram dois, iguaizinhos, e acho que vem mais por aí porque tá escrito no extrato "seu cartão já está disponível na agência". Se eu tivesse dinheiro pra movimentar tudo isso não estaria escrevendo isso, estaria de férias e voaria pra Portugal. Mas o truque é manjado, taxas, taxas, taxas e mais taxas pra adiantar meu falecimento cardíaco. Foda-se o banco e o ônibus lotado, e foda-se a casas bahia que tá fodendo os meus tímpanos liberando celular com estéreo supersônico pra essas pessoas com péssimo gosto musical, aliás, com gosto nenhum. O outro aparelho de celular que eu tinha, me roubaram, veio com um cd inteiro gravado na memória Ivete Sangalo no Maracanã, AO VIVO. A vendedora dizia "uau, olha que coisa maravilhosa, adooooro, e você nem vai enjoar porque tem um cd inteiro nesse cartão de memória" e a primeira coisa que fiz quando saí da loja foi sentar numa mesa da praça de alimentação do shopping e apagar tudo. Devia ter deixado, porque aí os moleques que me roubaram teriam o que gostam pra ouvir enquanto planejavam o próximo assalto. Foda-se o cd ao vivo no maracanã também. Deixei uma conta atrasar, não pensem que sou uma caloteira só porque já é a segunda dívida que assumo no mesmo texto, e agora querem me cobrar mais a metade do que eu já não tinha pra pagar. E eu vou ter que rebolar, é isso aí, numa dessas casas onde as meninas capricham no batom vermelho e na calcinha, ou sem ela, pra tentar saldar isso.
O telefone não toca e estou aguardando desesperadamente uma resposta POSITIVA que me livre a cara, a alma e a dignidade. Que de tudo é o que mais está me animando-desanimando. Amanhã é dia de tomar cerveja, e hoje também. Ontem eu teria sorvido taças de vinho, mas fiquei destraída e sóbria pensando naquele senhor que fica rodando sozinho no bar, de mesa em mesa dispensando sorrisos e apertando mãos de quem não tá nem aí. E comi um sanduíche de queijo, como os que ele prepara e leva pro pessoal lá no bar.
Hoje é dia de pagar o aluguel e as noticias não são boas. Mais uma geladeira queimada.
*o título é da Camila, a Lopes, entenda aqui
13.6.08
olho daqui pra lá onde vejo moleques descalços jogando bolinhas, de gude, em cima do triângulo desenhado com giz, de lousa, e meninas que coçam a cabeça com pressa para entender seus pequenos corpos de onde virão mães como as que vejo apontando a direção que não é a certa e como tem mesmo que ser e olho pra lá esperando finalmente encontrar alguém mais interessante que eu que talvez me diga porque sempre faltam estrelas no céu em cima da minha janela e diga "até amanhã!" mas que não precise voltar amanhã pra ser sincera nisso e olho as bolas de vidro girando naquele triângulo de giz e me fazendo pensar em tantas coisas esquecidas guardadas numa lembrança empoeirada, os moleques desistem do jogo por uma garrafa de tubaína, eu desisti por muito menos.
12.6.08
9.6.08
Esse veio em junho do ano passado...
Acontece quando cê não desfaz um laço
Fica ali parado, vivendo seus pesadelos letargicamente. Tem um olho a mais que conseguiu numa dessas esquinas onde se aprende a viver. Não viveu. Na verdade ele não vive. Fica ali recostado no seu covarde desejo de des-existir. Ele é um bosta, gosta disso. Não se permite uma bronha. Ele não. Acredita no amor e em toda a encrenca que vem junto nesse mixto de babaquices e choraminguações. Tem um terno cinza com uns botões afeminados, usa aos domingos, mas não vai à missas. Tipinho cretino e displicente. Macho sem pinto. Puta dum trouxa que não come boceta. Não porque não gosta mas o caso é que ele é muito certinho pra isso. Eu me pergunto; como se é certinho pra comer uma boceta? ou pra não comer uma?
Entro no carro (que não é meu!) e o som no talo me faz não olhar pra calçada do lado e ver a cara de cú dele. Aí ele acena, grita, levanta na ponta dos pés... diz bom dia e eu mando tomar no cú sem abaixar os vidros... giro o dial com dedos nervosos, e na caixa o volume mais alto possível.
Vidinha de merda essa dele. Mora sozinho e tem um bassê com toquinho de rabo, se parecem as bichinhas.
Já pensei em ajudar o coitado. Não devia ser tão difícil. Mas não deu, eu não dei, ficou assim. Deixo sem jeito: "Cê gosta que chupar um grelo?" Derruba o controle da tv e tenta enfiar a cabeça no chão. Aí não deu certo. Tava disposta dar uma força pro cara. Sou gente boa. Mas ele não chupa um grelo.
Acorda às sete e meia. Toma seu Nescau com leite b às oito. O bassê lambe o sapato dele às oito e meia. Nove horas e ele tá lá acenando pra mim. Não tem pinto o coitado.
Minha mente sequelada não me poupou a repugnante lembrança do dia dos namorados de 98. Caralho. Veio na minha direção com uma caixinha verde de laço roxo delicadamente ajeitado. Olhou pros lados pra ter certeza de que era mesmo seguro caminhar até ali, suava frio e seu olho esquerdo tremia irritantemente. Fingi não entender o que estava pra acontecer (mas se tivesse arrotado na hora certa podia ter evitado essa agonia que me persegue e puxa minha perna quando tento correr). Me entregou a caixinha que nem me dei o trabalho de agradecer. Isso foi na sexta. Na segunda trazia aquela marquinha arroxeada no pescoço e o "OI" apaixonado e agradecido de uma foda domingueira não foi pra ele. Três olhos. Esse último apareceu numa segunda feira. Tentei ajudar ainda, mas ele não chupa mais um grelo. Gosta de dar tchauzinho na ponta dos pés.
Não tinha problema nenhum na vida aí não quis abrir a tal caixinha (e as pernas?) pois que começou minha angustiante fuga. Uma aspirina por gentileza! Certas reminiscências cutucam a ferida que ficou. Quanto blábláblá...
Eis a questão: o cara é um mala e me culpa por não ter sido o autor da marquinha roxeada da segunda feira, só porque fez um laço de fita roxa impecável.
Sem acenos e sem um terceiro olho inquisidor filho da puta. Saio agora às oito e quarenta e cinco sem ter que tomar aspirinas. Quase nove anos. Quase três mil duzentos e oitenta e cinco dias de bronhas não batidas e grelos intactos.
O bassê ta batizado de Doca. Ele, Maurício. O carro já devolvi pro meu irmão. Oito e quarenta e cinco e um copo de iogurte natural azedo pra cacete.
Desfiz o laço roxo e botei a fita em cima da geladeira enrolada no pingüim. Hoje tem corrida no jóquei. Não tenho dinheiro pra apostar, mas bebo no copo dos meus amigos, ele vai ficar atrás da cortina me esperando sair com minha saia de couro e meu salto 15 gasto de asfalto. Vai apagar a luz e fechar os olhos, os três. Uma última bronha. O laço ainda intacto. E nunca mais vou precisar de aspirinas.
Acontece quando cê não desfaz um laço
Fica ali parado, vivendo seus pesadelos letargicamente. Tem um olho a mais que conseguiu numa dessas esquinas onde se aprende a viver. Não viveu. Na verdade ele não vive. Fica ali recostado no seu covarde desejo de des-existir. Ele é um bosta, gosta disso. Não se permite uma bronha. Ele não. Acredita no amor e em toda a encrenca que vem junto nesse mixto de babaquices e choraminguações. Tem um terno cinza com uns botões afeminados, usa aos domingos, mas não vai à missas. Tipinho cretino e displicente. Macho sem pinto. Puta dum trouxa que não come boceta. Não porque não gosta mas o caso é que ele é muito certinho pra isso. Eu me pergunto; como se é certinho pra comer uma boceta? ou pra não comer uma?
Entro no carro (que não é meu!) e o som no talo me faz não olhar pra calçada do lado e ver a cara de cú dele. Aí ele acena, grita, levanta na ponta dos pés... diz bom dia e eu mando tomar no cú sem abaixar os vidros... giro o dial com dedos nervosos, e na caixa o volume mais alto possível.
Vidinha de merda essa dele. Mora sozinho e tem um bassê com toquinho de rabo, se parecem as bichinhas.
Já pensei em ajudar o coitado. Não devia ser tão difícil. Mas não deu, eu não dei, ficou assim. Deixo sem jeito: "Cê gosta que chupar um grelo?" Derruba o controle da tv e tenta enfiar a cabeça no chão. Aí não deu certo. Tava disposta dar uma força pro cara. Sou gente boa. Mas ele não chupa um grelo.
Acorda às sete e meia. Toma seu Nescau com leite b às oito. O bassê lambe o sapato dele às oito e meia. Nove horas e ele tá lá acenando pra mim. Não tem pinto o coitado.
Minha mente sequelada não me poupou a repugnante lembrança do dia dos namorados de 98. Caralho. Veio na minha direção com uma caixinha verde de laço roxo delicadamente ajeitado. Olhou pros lados pra ter certeza de que era mesmo seguro caminhar até ali, suava frio e seu olho esquerdo tremia irritantemente. Fingi não entender o que estava pra acontecer (mas se tivesse arrotado na hora certa podia ter evitado essa agonia que me persegue e puxa minha perna quando tento correr). Me entregou a caixinha que nem me dei o trabalho de agradecer. Isso foi na sexta. Na segunda trazia aquela marquinha arroxeada no pescoço e o "OI" apaixonado e agradecido de uma foda domingueira não foi pra ele. Três olhos. Esse último apareceu numa segunda feira. Tentei ajudar ainda, mas ele não chupa mais um grelo. Gosta de dar tchauzinho na ponta dos pés.
Não tinha problema nenhum na vida aí não quis abrir a tal caixinha (e as pernas?) pois que começou minha angustiante fuga. Uma aspirina por gentileza! Certas reminiscências cutucam a ferida que ficou. Quanto blábláblá...
Eis a questão: o cara é um mala e me culpa por não ter sido o autor da marquinha roxeada da segunda feira, só porque fez um laço de fita roxa impecável.
Sem acenos e sem um terceiro olho inquisidor filho da puta. Saio agora às oito e quarenta e cinco sem ter que tomar aspirinas. Quase nove anos. Quase três mil duzentos e oitenta e cinco dias de bronhas não batidas e grelos intactos.
O bassê ta batizado de Doca. Ele, Maurício. O carro já devolvi pro meu irmão. Oito e quarenta e cinco e um copo de iogurte natural azedo pra cacete.
Desfiz o laço roxo e botei a fita em cima da geladeira enrolada no pingüim. Hoje tem corrida no jóquei. Não tenho dinheiro pra apostar, mas bebo no copo dos meus amigos, ele vai ficar atrás da cortina me esperando sair com minha saia de couro e meu salto 15 gasto de asfalto. Vai apagar a luz e fechar os olhos, os três. Uma última bronha. O laço ainda intacto. E nunca mais vou precisar de aspirinas.
Paula Klaus
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