24.10.09
22.10.09
ela pegou o ônibus errado. ela pegou o ônibus errado e eu estava sentado na última poltrona, olhando pela janela embaçada algumas mentiras que caíam na pista ao lado. pagou com o dinheiro trocado, revirou o fundo da bolsa e riu envergonhada pro cobrador que se pudesse lamberia seus peitos, o que já fazia com os olhos. tirou a última moeda e se encolheu pra cruzar a catraca apressada. mirou todos os lugares vazios, encarou todas as pessoas que nem notavam que ela tinha uma verruga na ponta da orelha, perto do brinco de argola, bijouteria. sentou perto de mim, olhou o relógio no pulso e calculou um suspirou, meditou uns instantes com o olhar perdido em qualquer direção. algumas mulheres perdem o olhar e nunca mais encontram. senti o cheiro do seu cabelo, do seu pescoço, senti o cheiro da sua respiração ofegante, quase um grito de pavor, senti pena do vazio que habitou entre nós dois. ela me olhou e sorriu, mas logo já olhava outra vez pro relógio e pro corredor do ônibus. nesse exato momento me dei conta de que eu é quem estava no ônibus errado, mas eu sabia que era o ônibus certo no caminho dela. porque eu queria perguntar as horas e convidá-la pra comer cachorro quente antes de umas cervejas, e depois eu a levaria pra andar por aí comigo. ou não. porque haveríam as escolhas.
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