10.4.08

Se eu perguntasse a você o que devia ter feito naquela noite certamente me diria que deveria ter ido embora. Pra minha casa. Eu teria chorado e certamente diria o quanto ainda te achava insensível. Mas eu tomei o ônibus errado até aquela rua escura onde tudo começou a tomar forma diferente. Dançamos a noite inteira mesmo tristes e exaustos. Fizemos sexo algumas vezes. Sentei no sofá e fiquei encarando meus pés. Você tremia o lábio nervosamente me causando uma irritação quase insuportável. Tínhamos que decidir coisas que você diria não serem tão importantes por enquanto, mas eu estava apressada pois sabia que o prazo da minha compreensão é curto. Em breve poderemos rir juntos de tudo isso, foi só isso que ouvi de você naquela noite onde quis morrer pra não te machucar. Porque antes de estar sentada naquele sofá eu era a mulher mais linda da cidade. Decididamente não devíamos ter aceitado a ajuda de tantas pessoas. Dançaria com você mesmo se todas elas me dissessem que não. Mas agora só temos que resolver esse problema: o que teria me dito naquela noite? No caminho eu pensei em te contar alguma coisa legal ou fazer sexo com você como fazíamos em qualquer lugar que nos desse vontade. Podíamos ter resolvido tudo se não fossem tão contraditórias nossas mentiras.

9.4.08


"O SHOW DO BOURBON

É HOJE, quarta.

Fiquei com um pequeno frio na espinha outro dia por conta do tal show do Bourbon. Há, eu que não temo palco nenhum, fiquei nervosinha.

E quando digo que não temo palco, não quer dizer que não respeito. Mas é que, porra, depois de trocentos anos entrando em cena, algum tipo de intimidade com isso você tem. Então vamos lá.

Não há lista VIP (detesto essa expressão, mas não achei outra melhor), então rola uma lista de meia-entrada.

Fica assim:
Show - 21:30
$28 - na porta
$14 - nome na lista

Para colocar o nome na lista, entre aqui e cadastre-se (escolha o assunto "Quero ir à festa da revista").

Nem preciso dizer que ficarei imensamente feliz se a casa estiver cheia de amigos. Vamos finalmente tocar fora de casa.

E eu prometo, Paulo de Tharso, encarnar a cantora e não fazer nenhuma gracinha com a platéia. Prometido, jurado, compromissado."
Fernanda D'Umbra

8.4.08

O quadro continua desalinhado. Pergunto as horas pra alguém que não está mais aqui há muito tempo. O quadro não é o único que não se enquadra. Desisti de apostar fichas nos heróis mortos, eu não ando por aí cagando regras ou me metendo entre revolucionários. Tenho muita idade e provavelmente pouco tempo pra pensar em todas essas coisas. Escrevi alguns poemas, quebrei uns cascos no bar do Tico e levei minha garota ao cinema. Ah sim, ela deixava uns dois ou três botões abertos e tudo era mais fácil naquela época. Meu pai vendia carros roubados e dizia que era um homem honesto, ele vendia o que seus amigos traziam, taí a honestidade da coisa. Mas fico olhando pra esse quadro em desalinho e imagino que minha vida poderia ter diferente, talvez melhor se não fosse essa maldita tosse que existe desde sempre. Merda de tosse e de lembranças que me fazem quere voltar lá e dizer que tudo não passou de um desentendido. Quando a gente tem um amigo, daqueles que te enchem o saco quando estão bêbados e vomitam no seu carro, são esses os amigos que me refiro, você tem que pensar nas suas palavras, porque tudo depende de você, entende? Podia ter mostrado pra ele que eu tava lá antes de sair correndo cagando de medo do que minha mulher ia pensar. Que se foda aquela vaca, foi embora e ainda sinto queimar o mesmo ódio daquela tarde. Tudo em desalinho, minhas idéias, a respiração do meu amigo e a honestidade da mulher. Não me atrevo a tocar em qualquer objeto que seja nesta casa. Mas é estranho esse quadro ainda caído, como se desse a idéia de qualquer coisa que assusta. Não sei do que estou falando. Apenas me intriga muito esse único quadro caído me fazer lembrar de tantas coisas e ter vontade de passar por todas elas outra vez. Só que dessa vez eu deixaria as coisas bem claras. Talvez tivesse uma chance...

7.4.08

Sexta-feira eu fui ao dentista. Passei algumas horas com aqueles olhos verdes mirando lá dentro da minha boca. Muita anestesia, muito sangue, dor de barriga, ciso com raiz inflamada dando trabalho. Saí de lá com a cara um pouco torta e babando com a boca aberta, horrível. Me deram uma máscara daquelas que os dentistas usam, pelo menos até a hora que a anestesia acabasse. Do consultório até o conjunto nacional, na Av. Paulista, gastei menos que vinte minutos. Consegui chegar a tempo pra sessão das 15:30 no cine bombril. Uma sessão sem pipocas, coca-cola grande ou balinhas de goma. O que não fez-me falta. Ótimo filme! Na saída do cinema encontro com o Ademir, paciente com as minhas manhas e choraminguações. Com um dente a menos fiquei um pouco mais dramática e mal humorada. Mas isso foi passageiro...
Bom, hoje as coisas voltam ao normal. A bochecha desinchou e o antibiótico me livrou das dores. Só não posso ainda comer despreocupadamente. Do mais está tudo indo bem. Hoje é dia de pagar umas continhas, negociar umas outras e provavelmente alguma coisa vai sair do orçamento.

Hoje eu posso mastigar. E faço questão disso.