8.4.08

O quadro continua desalinhado. Pergunto as horas pra alguém que não está mais aqui há muito tempo. O quadro não é o único que não se enquadra. Desisti de apostar fichas nos heróis mortos, eu não ando por aí cagando regras ou me metendo entre revolucionários. Tenho muita idade e provavelmente pouco tempo pra pensar em todas essas coisas. Escrevi alguns poemas, quebrei uns cascos no bar do Tico e levei minha garota ao cinema. Ah sim, ela deixava uns dois ou três botões abertos e tudo era mais fácil naquela época. Meu pai vendia carros roubados e dizia que era um homem honesto, ele vendia o que seus amigos traziam, taí a honestidade da coisa. Mas fico olhando pra esse quadro em desalinho e imagino que minha vida poderia ter diferente, talvez melhor se não fosse essa maldita tosse que existe desde sempre. Merda de tosse e de lembranças que me fazem quere voltar lá e dizer que tudo não passou de um desentendido. Quando a gente tem um amigo, daqueles que te enchem o saco quando estão bêbados e vomitam no seu carro, são esses os amigos que me refiro, você tem que pensar nas suas palavras, porque tudo depende de você, entende? Podia ter mostrado pra ele que eu tava lá antes de sair correndo cagando de medo do que minha mulher ia pensar. Que se foda aquela vaca, foi embora e ainda sinto queimar o mesmo ódio daquela tarde. Tudo em desalinho, minhas idéias, a respiração do meu amigo e a honestidade da mulher. Não me atrevo a tocar em qualquer objeto que seja nesta casa. Mas é estranho esse quadro ainda caído, como se desse a idéia de qualquer coisa que assusta. Não sei do que estou falando. Apenas me intriga muito esse único quadro caído me fazer lembrar de tantas coisas e ter vontade de passar por todas elas outra vez. Só que dessa vez eu deixaria as coisas bem claras. Talvez tivesse uma chance...

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