E daí que era uma bobagem? Era a minha bobagem e isso a tornava sim, a maior encrenca dos tempos. Porque eu já não tô afim de ser a mesma sempre, de ter os mesmos defeitos que lhe fazem tão bem. Por mais que eu me limite ao impossível, que é gostar de tudo isso e de você, eu já nem acredito mais em todas as coisas, e gostar de tudo isso é tão absurdo quanto as mil frases que você nunca termina e aquela ruga na sua testa que fica tão engraçada quando te olho da cozinha, você na sala ou em qualquer outro lugar, é tão engraçado!
Mas família, como você fala e diz que é dú caralho, essa eu não quero não. É triste demais ver tantas pessoas ali sofrendo por uma regra que nem elas mesmas escolheram. Gosto de gatos, e passarinhos, mas os dois juntos é impossível, dá merda, tipo o lance de família sabe.
Pode contar aí nos teus dedos quantas vezes eu disse que ligaria, mesmos quando eu disse que só ligaria pra dizer um oi, eu não gosto de telefones, é tudo tão monótono, tão mais fácil. Prefiro, ainda e portanto apenas me ouça, sentar no beiral daquela janela naquela casa, de onde eu teria lhe acenado ou jogado um beijo sacolejando num riso frouxo. A mesma coisa todo dia, como as páginas da folhinha do calendário onde é sempre dia 12, segunda-feira. Nós não vamos voltar lá e fazer tudo outra vez, porque vai dar tudo errado, perdemos o jeito com os pequenos defeitos de nós dois, aquela casa fica muito maior vazia, e mais bonita!
Papai vai gostar de saber que me dei mal, e com você, e pela família vou me sentir recompensada se tudo, ou parte então, seja mesmo a, ou uma delas, verdade.
Quem me dera ter certeza de tantas palavras que saem da minha boca arrebentando meus dentes, nem essas cicatrizes se parecem as minhas, eu duvido que sejam, assim como eu duvido que quando eu terminar de dizer todas essas coisas e me virar pra você ainda estará aí esperando que eu resolva alguma, e qualquer pois não é o caso da gente, coisa, e outra vez.