9.10.08

e derrepente alguma coisa tem que ser feita, algo urgente, eu no ônibus voltando do trabalho, não necessariamente pra casa mas, voltando do trabalho com sono e dores de cabeça e lembranças tristes e ressaca ao redor do corpo, os dias passando rápidos a semana acabando a mesma falta de grana de muito tempo e aquela vontade que nunca acaba, aquela vontade de não-sei-bem-o-que que vem no fim do dia, mesmo que a cidade inteira, falo das pessoas em cima dela, calassem sua bocas enormes ainda teria muito barulho e o eterno mau cheiro, e alguma coisa tinha que ser feita em mim para mim e é isso, começou uma música (é até pecado chamar aquilo de música, mas a essa altura) com muito auê e tumtumtum e as pessoas sorriam e mexiam a sobrancelha e faziam humhumhum e laralálaralá (não como o Roberto Carlos naquela música que não lembro o nome agora) e o balanço das ruas, buracos onde a água da chuva apodrece e evapora e volta a ser, meus pés, clandestinamente, começaram a se mover, pezinhos batendo no "ritmo" daquela orgia, medo-meu-medo, e reparei meus lábios abrindo e fechando, participando daquela zorra toda, e alguma coisa pra acontecer, e minhas calças suando, de volta pra uma cama e nenhuma casa, e agora a sensação era de que estava prestes a morrer, porque aquilo só podia ser sacanagem, cantei um refrão inteiro e era a mesma música (os músicos, me perdoem por isso) que escapava do rádio da dona Lurdes na copa, que nem precisa mais daquele emprego agora já na sua milésima primavera, e o som me perseguindo, asco, tumtumtum auê humhumhum, achei que nessa hora ouviria trombetas e sinos e algum maluco de cachinhos louros voando e me esticando a mão, em todo lugar acontece, isso entra dentro de você, seus pés não acompanham o bom senso que é de seu costume, NÃO, seus pés são tão safados que conseguem te envergonhar, daí a vontade de não-sei-bem-o-que e o sinal e a parada e você corre, pra um lugar silencioso, não necessariamente a sua casa, mas você tem uma cama e algum sono, e pensa que amanhã pode acontecer tudo novamente e aí você pega no sono de uma vez, e no outro dia você resolve que não vai mais sair de casa.

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