Bife com muita cebola e batatas cozidas. Eu gosto cozidas. Se quando você chegar eu ainda estiver aqui te ensino como cozinhar as batatas, assim do meu jeito. O que é mais importante nisso é não esquecer de NUNCA descascar batatas antes de botar na panela. Como não esquecer de me contar algo antes das coisas acontecerem na frente dos olhos. Você sabe do que tô falando garota.
A comida diz muito da gente. Quando a gente prepara é sempre bom experimentar antes de servir, porque segredinhos escapam e queimam a língua. Se comemos na casa de alguém, porque nos restaurantes a coisa é diferente, é bom olhar bem pro prato e pros talheres e se tiver um guardanapo sobre a mesa tenha cuidado. Qualquer deslizer e você se entala com um osso de galinha e poe morrer. Ou coisa pior.
Bife, entendeu? Daqueles que você nunca teve tempo pra preparar, daqueles que faziam a gordura se espalhar pelo fogão pela parede e por todo seu cabelo. Daqueles, garota, que você nunca queria fazer. Ao contrário das longas noites chorando por uma vez, ou duas, que eu não quis te acompanhar. As batatas vão amolecendo e a casca vai desprendendo. Nós com o tempo vamos nos desprendendo com a mesma rapidez. Quando eu falo de cozinhar eu não estou falando só no arroz-feijão-temperos-abobrinha. Minha conversa está fora do caldeirão. Falo das coisas que perdemos por aí e nunca mais vamos encontrar. Como muito do que já botamos pra dentro do peito e depois tiramos. Óleo quente só doura por fora, fica bonito de ver, mas por dentro, por dentro é tudo crú, dá dor de barriga. Tudo que fazemos por fora fica muito bonito, tem jeito, dá até pra sentir um alívio. Mas por dentro a massa crua faz nausear por dias. Consegue perceber que a culinária é um reflexo da vida? Eu tenho pensado muito nisso. Desde o dia em que você decidiu parar de comer carnes. E foi embora por esses mesmos dias.
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