7.7.08

Dei duas voltas de bicicleta em torno do parque do Ibirapuera. Domingo de sol alto. Você já foi no parque Ibirapuera? Uma volta só já me deixaria com esses anos de boemia em frangalhos. E a bicicleta era uma daquelas caloi ceci com molas no selim, uma beleza mas nada moderna. E com aquelas curvas e subidinhas e descidinhas eu precisaria de umas marchas, mesmo sem saber como usar isso. Tinha só uma garrafa com água que eu enchia de quando em vez naquelas torneiras cheias de terra. Eu parei numa sombra e encostei minha senhora ceci num banco desses de cimento e fiquei juntando um ar ali em frente ao lago com o chafariz do pão de açúcar. Umas crianças jogavam cheetos pros patos e xingavam quando estes rejeitavam "pato burro, é cheetos, viu" uma garotinha de uns oito anos gritou. A mãe, o pai, a irmã mais velha, a tia velha (que tinha uma curva sensacional) aplaudiram a menina e fizeram um gesto pro pato, não entendi o gesto e confesso que não gostei daquilo. Isso ainda na primeira volta antes de eu encrencar com o sorveteiro que me cobrou um real num picolé de abacaxi. Entenda que eu não reclamei do valor, acho até que se fosse eu cobraria bem mais pra ficar aguentando aquele sol e aquela molecada gritando tiô. Pedi um de uva e não tinha, um de limão e o último tinha ido ha dois minutos, pedi de morango, coco, maracujá, abobrinha, batata-doce e nada, tudo a alguns minutinhos, ele me disse. "o que é que tem aí de uma vez por todas?" o cara de viseira, camiseta com a cara sorridente do último político do povo, com cara de quem não tá nem aí "ó, eu só tenho de abacaxi" porra "e não me disse logo porque?" adivinhe "o moço não disse que queria de abacaxi". Daí o um real mais sofrido da minha vida.
O parque do Ibirapuera aos domingos fica um inferno. Tem gente que deita na grama pra tomar sol, e quase tira a roupa. Uns moleques maconheiros que enchem o saco gritando e correndo e pulando pra todos os lados. Uma criançada de patins, bicicletinha e patinete. Mães correndo com suco e sanduíche pra todo lado. Namorados em primeiras tardes trepando nos cantos mais vazios. Ingênuos, aos domingos não existem cantos mais vazios naquele lugar. E tem os estudantes metidos a intelectuais que sentam embaixo de árvores e folheiam livros de quinhentas páginas com os olhos circulando em volta. Alguém deveria dizer a eles que isso não é necessário. Pedalo, pedalo, pedalo, outro banco de cimento e Elma, a garotinha da Chips, agora fora substituída por um velho de óculos escuro que sentou-se perto dos patos mas não tava nem aí pra nada daquilo. Ele acendeu seu cigarro e jogou o palito no lago, talvez quisesse se divertir com um pato engasgado. Mas ele não se movia, ele puxava toda fumaça que seu pulmão podia suportar e soltava em sincronia, fazia até desenhos no ar, e eu os via. Ele parecia um cara normal. E saltei na bicicleta agora completando a segunda volta, e última porque aquilo já era demais pra mim. Passei por onde um cara magro de olhos amarelos aluga bicicletas e perguntei quanto conseguiria naquela caloi ceci com molas no selim. Uns cinquenta paus - o cara me disse com uma cara desconfiada mas bem interessada. Não pensei duas vezes, deixei até a garrafa com água de brinde pro magrelo. Gastei metade da grana com o táxi pra casa. Tá valendo, o magrelo ainda sorriu sacana acreditando que eu não sabia que minha ceci valia bem mais, era raridade já. Que seja, precisava sair logo dali e esquecer os patos, as garotinhas da Chips, os moleques maconheiros e sorvetes de abacaxi.
Eu cheguei na minha casa antes do final da Família Dinossauro. Quer melhor negócio?

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