sossega, eu vou tentar evitar te olhar quando passar por mim. evitar tudo isso. mesmo sabendo que vai doer mais do que tá doendo agora.
28.11.11
ps.
sossega, eu vou tentar evitar te olhar quando passar por mim. evitar tudo isso. mesmo sabendo que vai doer mais do que tá doendo agora.
24.11.11
suor...
25.10.11
M.
Marli era a mulher mais bonita daquele lugar. ela era a mulher mais bonita do bairro todo. a mais encrenqueira também. uma vez ela discutiu com um cara que pediu pra ela dançar, o cara era um mané e usava roupas coloridas e gastou a maior grana pagando bebia pra todo mundo. ele se apaixonou pela Marli. mas ela tinha perdido o marido e o filho num acidente e desde então a única coisa que fazia era beber todas as noites com uma grana gorda que ganhou do seguro e ficar lá puxando papo com a gente. ou só ficava lá sozinha, bebendo sozinha e amaldiçoando o destino. o mané colocou a mão na sua cintura e mal conseguiu ver de onde veio a pancada com toda a força batendo do lado direito da sua cabeça. caiu no chão e ela pisou no seu pinto com o salto da sandália. o cara ficou gemendo lá no chão e ninguém se importou muito.
com o tempo tínhamos cada vez menos o que conversar, ela estava afundando numa escuridão que só ela podia compreender. eu acho que ela precisava daquilo. com o tempo ela perdia a cor, perdia a aspereza, ela estava indo embora. as vezes sumia por dias e eu não a procurava.
meu telefone tocou perto das quatro. tocou um bocado até que eu consegui me equilibrar sonâmbulo até a sala. disseram que saiu sangue até pelos ouvidos. não sabiam quando tinha acontecido, mas alguém sentiu um cheiro, alguém arrombou a porta e alguém achou que eu precisava saber.
o Joca apareceu em casa, trouxe uma garrafa de conhaque e ficamos sentados na sala. liguei o rádio e ouvimos "Oh goodbye everybody / I believe this is the end / I want you to tell my baby / Tell her please, please forgive me / Forgive me for my sins". torci pra que ela tivesse encontrado seu perdão, e que enfim pudesse ir embora como gostaria. adormeci no colchonete e não vi a hora que o Joca saiu, deixou anotado num pequeno pedaço de papel marrom: tudo termina ás 15 horas. mas eu não quis ir ao velório. eu me sentia realmente tranquilo. estranhamento calmo. pensei em tudo que já tinha feito até aquele instante. sentia o peso de cada osso do meu corpo, cada pedaço de pele já flácida. fiquei pensando na miséria da vida, nas dores da gente que ninguém pode alcançar. fiquei pensando na Marli e senti saudades. alcancei a garrafa e logo adormeci novamente. o telefone tocou todo o resto da tarde.
17.10.11
the frog and the owl.
5.7.11
"então não faça isso, se não é o que realmente quer fazer"
"você não sabe de nada, você é um bosta... tô chorando porque essa tesoura é uma merda, e toda essa situação é uma merda. e você não sabe de nada"
"não sei. eu nem quero saber, só sentei aqui porque gostei dos seus brincos"
"bicha!"
"gostei da idéia de arrancá-los da sua orelha" O que era cretinamente sincero.
"sai fora, eu não gostei de você. eu não quero conversar. eu só quero ficar aqui e tomar uma decisão, sabe?"
"não sei... mas acho que não deve decidir nada ainda. você devia tomar essa cerveja comigo"
"eu quero. e depois você vai atirar em mim?" Ela quase riu, mas cravou os dentes nos lábios.
"não. eu não vou atirar em você. só vou ficar aqui olhando pra janela daquele apartamento (apontei com o revólver)"
"ela é muito bonita. ela é realmente bonita. acha que foi por isso que ela ficou com ele?"
"foi por minha culpa"
"e ele ficou lá por sua culpa também?"
"eu não sei de nada..."
"eu sim. ele mentiu muito. todas as noites e dias e anos. ele é um miserável, sabe? ele mastiga bem as palavras. posso entender porque ela deixou que ele ficasse lá. agora, essa sua arma não muda nada"
"e você trouxe essa tesoura pra quê?"
"foi presente dele. queria devolver..."
ficamos bebendo em silêncio. ela não olhava pra janela do apartamento, ela não tirava os olhos da fotografia. ficamos ali por horas sem dizer uma única palavra. apenas bebendo. o garçom colocou a mão sobre o meu ombro e nos levantamos. tirei o dinheiro do bolso e então ela me encarou. não tinha nada nos seus bolsos, assim como nos olhos. deixei o revólver sobre a mesa, a morena ajeitou o vestido e colocou a fotografia debaixo da arma. eu atravessei a rua e levantei a gola do meu casaco. acenei pro táxi. ela foi pro outro lado, com a tesoura na mão direita. acenei pra ela. nunca mais nos encontraríamos.
22.6.11
[21/06]
Gostava dela. Sim, eu gostava muito daquela mulher. Do seu jeito de ficar louca e arranhar minha cara em seus ataques de fúria. E depois cair em si e me fazer curativos e me chupar e me morder com a doçura descontrolada que só encontrei naquela mulher estranha. E disseram que eu estava encharcado, que eu tinha detonado o bar e uns caras estranhos, eu só me lembro de não tê-la visto sair. Alguém começou o papo sobre ela e o que fazia antes de me conhecer. Antes, aquele antes, e todo o inferno de volta em mim. Alguém que provavelmente não me conhecia e não conhecia aquela incrível mulher, alguém que resolveu arriscar o seu pior dia num papo tolo pra cima de mim. O decreto era esquecimento, oras! quebrei mesas, uns dentes que talvez tenham ficado em meio a todas as garrafas quebradas. Esvaziadas antes da confusão. Outro me pedia pra sair, pra sair antes que a coisa ficasse feia de verdade. O que ninguém ali ou em qualquer outro lugar sabia é que a coisa toda já tinha me matado antes. Então agora eu era um fantasma cheio de raiva e ela tinha um passado sujo que eu precisava esquecer. Era só ter evitado um olhar, um único olhar e eu não teria ficado louco por ela. Os cabelos claros caindo no ombro, a pele tão clara que eu podia atravessá-la com meus olhos de lobo. Sua boca desenhava um raio na minha memória e foi aí que eu fiquei totalmente preso a essa criatura. E sempre havia algum herói embriagado querendo me acordar desse pesadelo. Mas é o meu pesadelo que me mantém vivo, cheio de sede, me mantém longe das encrencas de verdade. Bancos, filhos, a empresa de energia elétrica e carrinhos de supermercado.
Uma noite ela entrou na sala com a cara retorcida, seus olhos faiscavam. Meu pau ficou duro na hora. Desliguei a tv e sorri. Ela me acertou no queixo com alguma coisa tão dura quanto a minha ereção. Depois disso se sentou ao meu lado e tirou uma garrafa pequena da bolsa, repousou a garrafa nos joelhos e ficou encarando o pequeno frasco. Começou a cantar uma música baixinho. A minha pequena criatura louca ficou ali cantarolando baixinho por alguns minutos até que levantou a garrafa e deu um bom gole, me estendeu o próximo. Recostou a cabeça no meu ombro. Tirei o maço do bolso e acendi um cigarro. Ela se ajoelhou e tirou meus sapatos carinhosamente. Sorriu. Abraçou minhas pernas, abraçou como se aquilo fosse outro pedido de desculpas. Não pelo golpe certeiro no queixo, mas por ter me encontrado. Por voltar todas as vezes, por não conseguir sair daqui. Ela, ruidosa e cuidadosamente colocou de lado meus sapatos e beijou meus pés. Aquilo foi a coisa mais bonita que já vi na porra da minha vida.
Aqueles lábios faiscantes!
A garrafa bateu com força no meu queixo, mas não quebrou. O queixo sim.
E ela depois levantou do sofá e enquanto vestia a calcinha (uma mulher vestindo a calcinha com um cigarro entre os dedos é a outra coisa mais bonita que eu já vi) me encarou séria e me pediu pra esquecê-la. Eu dei de ombros. Eu jamais poderia impedi-la. Deitamos no chão, apagamos a luz. Ela começou a cantarolar uma música, meu peito doeu, implodiu, e então não pude evitar e comecei a cantar com ela. Era nossa última chance, e não nos veríamos nunca mais.
(caixa de corerio)
1.4.11
30.3.11
trinta e cinco motivos pra estar aqui
17.3.11
03 de Março
Espero que você tenha muitos bons momentos, e que seja uma menina forte pra enfrentar os outros que vem junto.
12.1.11
Amanheceu o primeiro dia de nossas vidas. E hoje, recortando reminiscências, lembro dos cafés da manhã que sempre deixávamos pra depois quando, cambaleantes e estranhamentes felizes, voltámos de mãos dadas e corações escondidos no bolso.
7.1.11
assim como preciso de todas as minhas convicções e desesperanças, duas doses ao cair da noite e um bom livro por perto. assim, oras, como preciso acreditar no que sinto pra continuar, mesmo sendo isso uma puta encrenca. assim como agora os barulhos vindos da cozinha já são outros, outra vez, e eu tenho tido medo de andar sozinha na rua de madrugada. como se fosse perseguida, ou como se estivesse sendo só ignorada. não, não me peça pra esquecer coisas, aquelas que também são minhas, não me peça pra ser gentil e jogar fora. faça somente a sua parte, eu cuido das minhas próprias feridas. como os gatos que se limpam e se cuidam, que saem por aí e não precisam de um afago, a menos que queiram um. um ponto final. um momento de paz e as suas histórias dos tempos no cortiço. uma amiga me contou que na grécia as pessoas não entendem a piada, aconteceu o mesmo comigo ontem a noite. saindo do cinema olhei pro outro lado da rua e notei fachadas e luminosos emoldurando a noite, pessoas falando sobre sonhos e desejos, um cara dormindo na calçada mais triste da avenida paulista. eu sonhando com pessoas que eu nem conheci e acordando atrasada. correndo até o ponto de ônibus, faminta, pensando tediosamente em erros recorrentes.