16.1.13


tinha uma música do Cazuza tocando no rádio. ela me perguntou se eu já tinha visto uma cicatriz como aquela, me cutucou o braço e mostrou "assim, como essa aqui, já viu?" tinha uma noite pela metade e uma garrafa cheia. não consigo me lembrar com precisão como foi que a gente se conheceu. eu entrei numa daquelas lojas de conveniência de posto de gasolina, pedi um cigarro e uns chicletes, ela me devolveu o troco e me deu um papelzinho com o telefone da casa dela. daí numa outra noite eu liguei e pedi pra ela vir pra cá ouvir umas músicas. me perguntou se morava sozinho pois não curtia coisas bizarras, foi assim que ela falou. eu conheci um cara que gostava desses lances de sexo com várias pessoas. ele falava pra gente no bar, falava os detalhes, tinha até mãe e filha nessas histórias. nunca gostei disso, pra mim já é difícil ter alguém além de mim mesmo numa cama. ela chegou metida num vestido bonito, botas, cabelo arrumado, tava perfumada e aquele cheiro era bem melhor do que o cheiro dentro da casa. no posto de gasolina eles usam uniforme. uma roupinha verde e azul e um boné. fora daquele uniforme ela ficava muito mais bonita. eu disse pra ela quando abri a porta "eu tirei você de dentro daquela roupa verde e azul, então" e ela ajeitou o cabelo e sorriu. tava tocando uma música do Cazuza no rádio quando ela começou a me fazer perguntas, e fumar cigarros, me mostrou a cicatriz no braço e uma tatuagem na bunda.
"a minha mãe também tinha uma cicatriz. era na coxa. ela nunca contou como conseguiu aquilo. eu também nunca perguntei."
"sua mãe também era suicida?"
"não. nem eu. isso aqui foi um cara com uma faca. ele assaltou a loja e fez isso. eu tinha começado a trabalhar uns dez dias antes e já me deram uma licença de quase um mês. e um dinheiro. daí eu fiz a tatuagem."
"parece uma abelha..."
"é uma fada."

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