15.1.13

tem uma história inteira na minha cabeça. inventei. é um lance que eu faço quando eu não posso falar. eu invento uma história e divido um segredo sozinha. seria bem mais fácil se eu contasse pra alguém, porque daí a outra pessoa ia acabar fazendo algum tipo de comentário e a história ia ficar diferente. totalmente diferente. eu inventei uma soma também, uma continha maluca pra calcular o tempo depois de eu ter desligado o telefone e você ter aberto outra cerveja e ela ter perguntado quem era. sou ruim em matemática tanto quanto sou péssima em guardar esses segredos. mas é comigo, sabe, eu fico enfiando a língua no copo com gelo e água pra me distrair enquanto assisto os comerciais. tem cada propaganda absurda na tv, sabe, eu nem presto muita atenção mas é que esse lance de você desligar o telefone e ficar lá do outro lado da linha me deixa meio louca. eu até reproduzo aqui sozinha a conversa de vocês "quem era?" ela te pergunta lixando as unhas no sofá "era um cara do trabalho, ele tá marcando um jogo com os outros caras, é amanhã à noite" você diz isso pra ela pensando em me comer "você volta tarde?" lixando as unhas "vamos jogar... e beber..." você fica pensando em como gosta quando eu abro devagar o zíper da sua calça "ah, ok, tudo bem... vou dormir na casa da minha irmã" e eu fico com tanto ódio de você, porque eu tenho quase certeza que é exatamente assim que você consegue se livrar e chegar até aqui. aí eu fico triste, assim, triste e com ódio de você. e aí, só de mentirinha, eu penso que você quebrou a perna no jogo, com os caras do trabalho. tá vendo? eu fico cheia de histórias na cabeça. culpa dessa minha mania de querer inventar um jeito pra você voltar aqui.

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