20.8.09

Era só uma calcinha, ela disse limpando a boca com um lenço borrando o batom na frente do espelho. E calcinha é tudo igual, todas tem o mesmo cheiro e o tamanho e a cor e tem algumas com estampas e outras não, ela ia falando sem notar meu desapontamento, aquele lenço me cortava o coração.
Acordamos antes das onze, como de costume em todos os finais de semana, acordamos e ela já foi se enfiando debaixo do cobertor. Segurei seus cabelos, não era uma cena bruta, pedi que fôssemos tomar um café com leite em algum bar próximo. Você não quer? ela me enfiava aquele olhar de súplica de mulher, nuazinha, estiquei o braço até a cortina e escureci um pouco suas costas. Descemos ainda transpirando a madrugada anterior, a muitas madrugadas. Pedi um café com leite, pão com manteiga, ela preferiu café com conhaque e pão de queijo, mas o que tínhamos no bolso só deu pra dois cafés puros, voltamos pra casa.
A casa é um quarto que servia de depósito numa loja de produtos elétricos. O dono é um velho religioso, aparenta mais que sessenta anos, o que eu deduzo pelas rugas pois nunca perguntei. Nada de drogas e prostituas, foi tudo que ele me disse depois de me cobrar o primeiro mês. Primeiro um portãozinho estreito que dá pra um corredor estreito, comprido, depois uma escada em caracol, e meu lar. Ela veio pra cá depois de nos estapearmos num bar que agora nem me lembro ao certo qual foi, acordei e ela estava aqui com aquela calcinha e aquele cheiro. Nos casamos em frente a igreja numa noite louca de cigarros, me lembro de algumas drogas e muita bebida paga por alguém que descobriu isso com atraso. Eu aceito, eu disse, sim, ela respondeu. Na primeira briga depois do nosso casamento ela me aparece sem aquela calcinha que eu gosto tanto de vê-la usando, a sua calcinha sumiu, minha favorita, e o que ela me diz é que é só uma calcinha, essa diaba.
Tive uma alemãzinha que gostava de me preparar o jantar todas as noites, ela vinha com sacolas de supermercado, e suas fantasias, ela cozinhava como uma mãe cheia de temperos e sorrisos lançados pra mim, na poltrona, sempre sujo e mal humorado. Trazia comida e aquela bunda cheia de meus dedos. E eu comecei a esperar que viesse, as vezes eu tomava um banho e lavava os pratos da noite que passou, mas uma hora ela parou de vir, e nunca telefonou. Algumas pessoas não voltam, outras se vão.
Tenho uma mulher que perde calcinhas. Do está falando? limpando a boca com o lenço, não é nada, é o que eu vou lhe dizer beijando-lhe o pescoço pela última vez.

4 comentários:

Mayra disse...

Sempre me sinto tocada pelos seus textos.

Klaus disse...

Mayra,
poxa, que bacana moça!
eles estão voltando...
beijo

Adriana Brunstein disse...

Tim, tô gostando de ver. E de ler!
Love, Dri.

Klaus disse...

Dri, feiosa da minha vida, eu tava quase esquecendo como eu gosto disso..!
beijo