17.3.08

resiliência

O que aconteceu não foi mais uma daquelas brigas, sabemos que não. Você me atirou daquela escada e antes de bater com a cabeça na quina do móvel eu olhei bem dentro dos seus olhos. Percebi uma lágrima ou outra escorregando do seu olho que já não sei se é seu mesmo. Terrível. Fiquei caída numa pocinha de sangue que escorria da minha boca e fazia minha cabeça girar.

Você desceu as escadas devagar, seus passos eram lentos e cheguei a achar que você iria se virar e sair correndo, se enfiar debaixo daquele lençol amarelado com nosso suor. Eu gritei alguma coisa que soaria como SOCORRO, mas minha boca encheu daquele líquido quente e só consegui pensar nas horas que perdi tentando entender alguma coisa daquele filme que assistimos. Sei que aquilo não era o melhor a se pensar naquela hora. Mas meu corpo já não podia me ajudar a pensar em muita coisa, a dormência chegava arrasando tudo.

Mas eu te olhei nos olhos e tentei falar, mas eu não podia falar, não sabia como. É isso. Preciso aprender a falar, porque percebi que sou muda (o que não é bom). Quando eu cambalhotei do sétimo degrau daquela escada de trinta e dois degraus me preocupei em não amassar o vestido que era o mesmo que usei no dia em que nos esbarramos pela primeira vez. Na época eu ainda dormia com o seu irmão. Seus amigos disseram que eu daria trabalho, porque já tinha me acostumado. Não vou amassar meu vestido por você. Eu vou levantar daqui e limpar tudinho, tenho que botar as coisas no lugar de uma vez. Os seus amigos têm razão. Me acostumei com a vida, com vestidos e cambalhotas. O que mudou de lá pra cá não se faz visível visto daí de cima, do topo da escada. E esse negócio de amor muda o que se enxerga daqui debaixo.

*isso veio na cabeça depois de reler um texto no blog da Fernanda

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