você ali me oferecendo o copo mal cheio. reclamo do barulho dos gatos no telhado, explico da minha aflição com os bichos no cio, aquela algazarra louca sobre nossas cabeças. alguém noutro bairro avança o sinal e causa um acidente, é o que você me diz olhando pela janela quando a sirene de uma ambulância nos interrompe. lá fora só o caos disputa a nossa atenção. eu nunca penso no que os outros estão fazendo, em suas casas, em suas camas, nunca me prendo pensando em quantas horas levam pra voltar do trabalho, ou pra onde voltam quando não suportam mais as suas vidas, compromissos familiares com as crianças e sogras e tias. eu sempre fico pensando no período de cio desses malditos gatos azucrinando a noite e às vezes eu quase sinto inveja deles. é um curto espaço no tempo. eu penso nisso e você me abraça, começa a contar coisas que eu quase nem acredito. e então nossos barulhos preenchem a sala, eu, você e gatos vadios trepando no telhado.
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