29.4.09

Algumas coisas viram moda, é o que dizem(?). Músicas, filmes, livros, até paixão tá virando tendência. Bicho, é um tal de ser eclético.
Eu acredito que algumas coisas viram "aquelas coisas dos outros". Eu gosto e também deixo de gostar de um monte de coisas, mas é por minha conta e risco e tem um monte de gente que deve me achar bem estranha.
Sempre me incomodou a palavra "estranha", não sei explicar como foi que isso começou, eu mesma uso muito dela, uma vez por dia pelo menos. O que me incomoda é me referir a alguém assim, o que faço às vezes também. Não gosto quando me chamam de estranha, mesmo se for na brincadeira, eu disfarço, mas isso me incomoda e eu não sei mesmo explicar porque. Mas não é de mim nem de como me sinto com certos apontamentos agora.
Eu vi uma garota e um livro do Jack London, ela sentada ao meu lado no vagão do metrô, eu tava com sono e pensava num café quente mas quando eu reparei o título na capa do livro eu não consegui mais desviar minha atenção daquela moça. Não me lembro da aparência dela, lembro das unhas com esmalte quase vinho, ela tinha um anel no polegar e lia "O lobo do mar". Não, ela folheava o livro, assim como quem vira páginas de um livro com receitas de bolos, escolhendo o tipo mais saboroso, o recheio mais saboroso, a cobertura mais saborosa. Página por página virando a esmo sem pausa.
Ela podia estar procurando alguma anotação, talvez quisesse reler aquele capítulo que mais gostou. Talvez só estivesse admirando as páginas, por que não?
Página por página virando acompanhadas por meus olhos agora já despertos, e um tanto angustiados, como são pela manhã.
Quando eu li esse livro me deparei com uma leitura fantástica, conheci ali um escritor que é hoje um dos meus preferidos, o conflito naquela embarcação - a Ghost - me tomaram de uma emoção e excitação difícil de explanar. Outra noite um amigo me disse que estava lendo um outro livro do London, não lembro agora qual era, e quase com a mesma emoção que eu acompanha as mãos daquela moça virando as páginas eu falava pra ele sobre minhas impressões com esse livro.
Ela percebeu que eu a olhava curiosamente e desprendeu um sorriso, e eu lhe disse "eu adoro esse livro!" no que ela fuzilou "um amigo esqueceu na minha casa, mas eu não li não, não gosto desses livros antigos, são muito parados pra mim, tô lendo aquele livro da Sônia Abrão, sabe qual é?"
O metrô descarrilhou e todos os senhores passageiros foram soterrados abaixo da avenida São João, inclusive eu e a Sônia Abrão. Final feliz pro Lobo Larsen*.
Claro que eu disse "ah, eu sei" porque a conversa findava ali, sem nenhuma explicação sobre que tal livro essencial deva ser esse, o que a moça tá lendo.
O amigo dessa moça tem sorte, pois vai receber de volta seu livro cuidadosamente intocável. Essa moça que eu não sei o nome e nada mais que a cor do seu esmalte, não vai mesmo gostar daquele livro, porque não dá pra encarar essa briga sem se machucar, pelo menos um pouco. É uma pena trazer no bolso certas afirmações.
Eu sei, tô chutando cachorro morto aqui, mas é que me falta ar em alguns locais, e isso tem sido bem estranho. Tô trombando pessoas bem Estranhas, e não tem sido incômodo chamá-las assim.



*Lobo Larsen
é um personagem do livro O Lobo do Mar, do Jack London

2 comentários:

Adriana Brunstein disse...

Neguinho lê livro da Sônia Abrão e a gente não pode fumar! O mundo é que é estranho! Aliás, baixei no bat local no sabadão, achei que ia te ver...chuif...
Beijo enorme, Klaus!

Klaus disse...

Neguinho devia ser excomungado por isso também, né? Ou metralhado, rs... eu fui pro interior, mas já tô na área.
Poxa, vou te ligar mina.
Beijo enorme, Dri!