É que se eu tocasse a campainha e você abrisse a porta eu sairia correndo. Você mora numa avenida e provavelmente algum caminhão passaria por cima de mim, porque é claro que eu tropeçaria na calaçada toda esburacada com aquele cimento fodido. Foi por isso que eu passei o bilhete por debaixo da porta durante a noite. Foi por pouco, tinha um cachorro latindo sem parar, tive que dar dois chutes pra ele ficar quieto. Quase estragou tudo. Ainda bem que você não acordou, porque você gosta de cachorros e é certo que ficaria muito bravo comigo, porque acho que quebrei o focinho dele. Mas o bilhete ficou lá. Agora isso, você nem leu ainda e já quer quebrar tudo. Isso sempre me incomodou em você. Telefonei pra sua irmã e disse pra ela umas verdades, mas não brigue com ela pois fui eu quem ligou. Sabe, eu ia te dizer pessoalmente mas fiquei desconcertada por caiu um dente meu, bem na frente e talvez você desse risada. Mas o pior foi mesmo esse bilhete que você não leu. Porque eu quebrei as fuças de um vira-lata pra não ter que dar de cara com você e não adiantou nada. Olha eu aqui sem dente na frente te dando explicações fajutas. Naquela noite eu entendi cada vírgula do que me disse. Quem não entendeu nada que se foda agora, porque eu tô indo embora. E se você não quiser ler essa porcaria de bilhete de uma vez por todas, dane-se.
Era só mais uma daquelas minhas cansativas declarações de amor.
2 comentários:
Irritantemente doloroso, quase um desabafo e uma súplica!
E ainda não consigo entender....
anônimo (Kate?),
sossega, não tenta entender essas coisas não, não faz bem pra saúde, rs...
Beijo!
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