25.6.08

Era como fugir. Trancava as portas, cerrava as jenlas e me mantinha em alerta atrás das cortinas. Numa casa de trinta e cinco quartos todos com banheiros e banheiras. Algo como premonição ou pura luocura instalada por conta do ócio de tantos anos. Mas eu verificava tudo, cada canto, cada pedaçõ de pizza caído no corredor. Sem tocar em nada pra evitar suspeitas com minhas impressões digitais. Nada em parte alguma, silêncio. Só então podia me deitar, mas sem nenhum sono ou chance de adormecer de fato. Numa casa de tantos quartos posso não ser o único a espreitar. É preciso todo cuidado. A loucura fica a meio metro da gente, qualquer deslize e pronto, lá está ela a querer nos abocanhar. Não posso esquecer de contar os talheres, e os pratos que sempre estão em número menos a cada vistoria. Porque facs e colheres ficam longe dos garfos, e todos sempre somam setenta e sete, sempre. Mas as cortinas altas de veludo escuro impedem que alguém desonfie de mim. eles pensam que eu não estou preparado pra um ataque. Cautela, cautela, cautela... Mas é sempre, e muito, difícil manter os dias em ordem, eles passam de dois em dois, como tudo aqui que não é sozinho. Apenas eu. Que matei duas mulheres que gritavam nos quartos, elas conseguiam gritar em trinta e cinco quartos durante semanas. Lembra o que falei da loucura? Não digo aquilo que não presenciei, é como ver os ratos detroçando um cachorro morto no quintal. Primeiro a cabeça, depois as patas, os ratos mais gordos abocanham desesperadamente as carnes do traseiro. E na sala, onde uma lareira enorme ostentando sucesso fica sempre acesa, eu enfileiro sabonetes e vidros de xampú pra ter certeza que foi tudo, tudo, anotado. Numa pranchetinha dos tempos da escola. Não quanto tempo vai durar tudo. Falando da vida. Preciso estar pronto pra prestação de contas, ou juízo final como alguns dizem.

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