4.6.08

Dia de festa na casa da Fátima. É aniversário do Luiz, seu filho mais velho. Ela morre de orgulho do filho, é seu maior tesouro - é o que ela diz. E hoje tem bolo pro garoto que completa 17 anos.


Não que eu tenha qualquer tipo de preconceito, nem que esteja julgando ou maldizendo o filho da Fátima, mas o moleque tem uma pele boa demais pra um moleque de dezessete anos. Nenhuma espinha, nenhuma cicatriz, nunca o vi com camiseta de time algum. Não quero fazer surgir uma dúvida, não suporto boatos, mas tenho certo apreço por Fátima e por sua grande bunda de senhora de família. Hoje ela está espalhando sorrisos pelo bairro e eu tô preocupado, se minhas suspeitas forem verdadeiras... Fodeu.


Ano passado fizemos um churrasco na casa da minha irmã, que mora ha dois quarteirões daqui. Foi num domingo a tarde e a casa estava cheia. Fátima veio dentro de um vestido florido que jogava sua bundona na minha cara. O filho não veio, tinha prova de matemática e precisava estudar - foi o que ela disse. Minha irmã é uma dona de casa descuidada, ao contrário da Fátima, faltavam talheres, copos e pimenta. O que acabou sobrando pra mim que tive que retornar dois quarteirões e de lá mais um até a casa da mãe do aniversariante (que na época estudava pra prova) pra pegar as coisas que faltavam. Não toquei a campainha porque já sou de casa, quase um parente só que mais querido e menos interessado, o que foi meu erro número único. Deitdo no sofá da sala estava o Luis, o garoto sem espinhas, e no tapete, bem próximo do sofá, um amigo dele um pouco mais alto, mais forte e meio desengonçado. Os dois pararam de flar assim que entrei no cômodo, e suas bochechas tinham um vermelho inconfundível. Fiz como se não tivesse os visto, peguei o que precisava e saí rápido antes que algo acontecesse. Depois desse dia nós, eu e o moleque, nos olhamos de outro modo, como se tivéssemos um segredo. Nunca toquei nesse assunto com ele, nem com a mãe dele, tenho certa repulsa da verdade em certos casos. E talvez se algo do que passou na minha cabeça fosse mesmo real a mãe dele deixaria de ser a mulher que é, talvez, e eu perderia minha admiração. Melhor fiz ficando calado com minhas suspeitas guardadas apenas pra mim.


Mas esse ano algo parece estar prestes a acontecer. Luis me disse que vai fazer uma surpresa pra sua mãe. Na festa, na frente de todo mundo. Ele com aquela cara bem tratada e aquelas pernas sem nenhuma marca de partidas de futebol com os amigos da escola. E meu coração descompassou. Aquele viadinho filho da mãe ia estragar tudo. Talvez a Fátima até quisesse mudar de país pra esconder a vergonha. E como vou viver sem o balançar diário daquela bunda doméstica a me embaçar a vista? Agora é comigo, tenho que tomar alguma providência. Se quer chupar pau e se enrroscar em marmanjo que o faça, mas deixe a mãe de fora. Decidi falar com o moleque de uma vez por todas. Tínhamos algo pendente que precisava mais do que nunca ser esclarecido.


Encontrei com o cretino no quintal da casa e pedi que entrássemos pra conversar. Sentei no sofá, ele ficou em pé me olhando curioso como se não soubesse o que eu queria dele, como se aquela tarde de domingo não houvesse acontecido. Viadinho cretino. Agora vou pôr fim na farsa, e nada estragaria a felicidade da Fátima.





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