16.4.08

um cara precisa ser mais triste

Que mal há em preferir a perversão que rezas a deuses que só fodem com meus dias? Pergunto a ela antes de ouvir o barulho da porta estrondeando e quase arrebentando o batente. Uma briga quando termina é sempre motivo pra que comece outra. É estúpido tentar explicar qualquer coisa antes ou depois da porta batendo.

Ela não tem culpa. Só disse que sou um canalha. Eu disse "veja você que é apenas o uso desviado do normal, perversão é palavra nova, dessa gente moderna". Quis dizer-me algo e calou sua cólera num gole bem servido da minha bebida. As mulheres ficam mais bonitas quando bêbadas, porque se deixam ser exatamente como são. Isso não é questão de usar máscara, nenhum homem vai levar uma fulana muito a sério se ela topar chupar seu pau antes de duas ou três doses. Puro orgulho masculino, saca?

Ser um homem triste me fez mais feliz. Como é bom não ter ninguém me esperando pro jantar, ou pra fazer compras naquele supermercado cheio de corredores e fileiras e operadoras de caixa com metade d minha idade. Fico mirando meu olhar de soslaio pras paredes que são as mais agradáveis companhias. Digo se estou deprimido e elas não se oferecem pra puxar outra cadeira, digo que não tenho saco pros noticiários e elas não me sugerem o filme do momento, digo que estou faminto e não se movem pra me preparar algo com pão e queijo. Não se movem pra nada, mas ficam ali me observando com a ternura que só uma parede pode ter. Porque as pessoas falam demais, e sempre sabem demais também. Preciso apenas deste silêncio e da minha consciência pesada pra me importunar. A mulher não entende que essa é a forma certa de amar. Deixando a pessoa em paz. Sem encher o saco com latas de ervilha em promoção nem com o casamento de terceiros. Esse negócio de comparação pode ser muito perigoso. Você pode descobrir, ou constatar, que você é mesmo muito pior do que julga. E isso vai te custar um bocado, porque ela vai querer sempre mais de você.

Cumplicidade só nos lugares mais imundos que frequento. Lá não importa se me alegro assistindo o programa que vulgariza a situação daquelas pessoas magras nos países mais pobres. Cada um acredita na cruz que escolheu carregar. O que funciona mesmo é o hedonismo. Que segundo antigos sistemas filosóficos é o único fim da vida.

Caminho a esmo por quaisquer lugares. Sempre sozinho, nem sempre sou a melhor companhia. Escolho quando quero dormir, o sono também não gosta da minha companhia. Nenhuma suportaria isso, de perambular ao meu lado, seria um séquito e já não acho essas coisas tão suportáveis.

Não me comparam àquele sujeito ruidoso que senta na sua mesa já no fim da noite pra contar um caso sobre um caso qualquer. Não me comparam a nenhum desses caras. Só as mulheres gostam desse negócio de comparação, é uma disputa infindável entre egos, bolsas e esmalte. Esse último muitas vezes consegue me dobrar.

Quando fiz meu décimo terceiro aniversário o sol brilhava mais em cima da minha casa do que em qualquer outra daquela rua de paralelepípedos. Eu ainda pedia pro tal papai do céu que guardasse meu sono, do jeito que meu pai tinha ensinado. Igualzinho. Mas foi esse mesmo cara, segundo minha mãe e as outras pessoas vestidas de preto, que o tirou de mim antes de eu mostrar que já não caía mais da bicicleta. Nunca mais juntei as mãos, e jurei pra esse cara que não precisava de mais ninguém. Por isso digo que ser triste é o que me faz um sujeito feliz. Minhas ambições não ultrapassam a curva da esquina, nem vão além de um umbigo cheio de batom e esmalte. Prefiro ser o cara que arruma brigas, mesmo você me flagrando na noite com a camisa úmida perdido num olhar tímido que fere a carne de alguém que queria apenas flagrar a ternura gélida das paredes.

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