“Você lembra da Larissa? A filha da mulher dos botões, das rosas. É bem típico dela soltar certos comentários...”
E a noite não acabava logo, não acabava nunca. Tentei desligar meu espírito do corpo e dar uma volta. Ela falava, mas pra si aliás, e mexia os braços, mexia os meus também. Encostei meus lábios naquela boca. “Peraí, deixa eu te contar o que fiquei sabendo daquela vagabunda da Larissa”. Continuei contando os carneirinhos, dava um tiro na cabeça de cada um que enroscava na cerca.
Seis da manhã. Acordei ao lado de um trapo úmido, lágrimas tão verdadeiras quanto minha admiração por aquele caderninho do Vitor Flora. Meu espírito tava ali do lado, rachando da minha cara imbecil. Esfreguei o olho, bocejei (o que agravou tudo), estiquei meu braço e a lembrança boa do que tinha acontecido naquela cama já tinha sumido. Só a poeirinha tava ali me embaçando a vista. Ela me olhou de um jeito que fez com meu espírito, parado e em pé do lado da cama, caísse no chão numa gargalhada convulsiva. “Você pegou no sono na melhor parte da história. Por que ainda me preocupo com você?" Me faço essa pergunta todos os dias. É bom ter alguém te esperando, mas vamos colocar nessa frase algumas limitações.
Você vira pro lado e sua noite paralisa, soluços, soluços e soluços. O sexo passa a ser mecânico. Não faço amor, gosto de foder. Ela chora, eu gozo. Tento explicar mas aqueles soluços me vencem sempre. “Não fica assim. Eu te amo!” Xeque-mate. Acaba a noite. Seis da manhã.
Arrumei minhas poucas coisas várias vezes, mas me considero covarde por não conseguir passar da segunda noite. Dá aquela sensação de bicha, vontade de mijar sentado. Homem que é homem não volta antes da terceira, meu pai falava isso.
Aí fiquei com esse fama de fila de supermercado, com registro e tudo. Não que eu não faça amor, claro que faço, mas dou descarga assim que limpo meu rabo. A tal da Larissa é que deve saber das coisas. A culpa é minha, e daquela história de lubrificar com a frase.
Quando a mulher descobre o poder que ta repousado no algodão da calcinha, ah não dá outra. E choram. Mas a Larissa deve saber que tem chance. Eu digo "eu te amo" e como a buceta dela, ela fica com aquela boca aberta.
Vendi meu carro, peguei uma gripe, pisei na merda. Quando acaba a novela começa a putaria, e a boca dela não fecha, não seca, não dá trégua. Aí eu boto meu algodão no ouvido e solto a frase. Sexo mecânico. Disse que fazemos amor, eu trepo.
Na porta da geladeira tem um bilhetinho: "Bom dia! Te vejo mais tarde!"
Subo a escada com falta de ar e arrumo as coisas. Grande merda, nunca passo da segunda noite.
Guardo o bilhete no bolso e coço o saco. Não tem diferença se é quarta ou sexta-feira, a noite nunca acaba. Volto daqui dois dias, e digo a mesma coisa. Eu trepo, ela diz que faz amor (mas não consegue gozar). Aí eu mando flores e ligo pra tal da Larissa. E essa sim sabe que tem chance!
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