22.6.11

[21/06]

Gostava dela. Sim, eu gostava muito daquela mulher. Do seu jeito de ficar louca e arranhar minha cara em seus ataques de fúria. E depois cair em si e me fazer curativos e me chupar e me morder com a doçura descontrolada que só encontrei naquela mulher estranha. E disseram que eu estava encharcado, que eu tinha detonado o bar e uns caras estranhos, eu só me lembro de não tê-la visto sair. Alguém começou o papo sobre ela e o que fazia antes de me conhecer. Antes, aquele antes, e todo o inferno de volta em mim. Alguém que provavelmente não me conhecia e não conhecia aquela incrível mulher, alguém que resolveu arriscar o seu pior dia num papo tolo pra cima de mim. O decreto era esquecimento, oras! quebrei mesas, uns dentes que talvez tenham ficado em meio a todas as garrafas quebradas. Esvaziadas antes da confusão. Outro me pedia pra sair, pra sair antes que a coisa ficasse feia de verdade. O que ninguém ali ou em qualquer outro lugar sabia é que a coisa toda já tinha me matado antes. Então agora eu era um fantasma cheio de raiva e ela tinha um passado sujo que eu precisava esquecer. Era só ter evitado um olhar, um único olhar e eu não teria ficado louco por ela. Os cabelos claros caindo no ombro, a pele tão clara que eu podia atravessá-la com meus olhos de lobo. Sua boca desenhava um raio na minha memória e foi aí que eu fiquei totalmente preso a essa criatura. E sempre havia algum herói embriagado querendo me acordar desse pesadelo. Mas é o meu pesadelo que me mantém vivo, cheio de sede, me mantém longe das encrencas de verdade. Bancos, filhos, a empresa de energia elétrica e carrinhos de supermercado.
Uma noite ela entrou na sala com a cara retorcida, seus olhos faiscavam. Meu pau ficou duro na hora. Desliguei a tv e sorri. Ela me acertou no queixo com alguma coisa tão dura quanto a minha ereção. Depois disso se sentou ao meu lado e tirou uma garrafa pequena da bolsa, repousou a garrafa nos joelhos e ficou encarando o pequeno frasco. Começou a cantar uma música baixinho. A minha pequena criatura louca ficou ali cantarolando baixinho por alguns minutos até que levantou a garrafa e deu um bom gole, me estendeu o próximo. Recostou a cabeça no meu ombro. Tirei o maço do bolso e acendi um cigarro. Ela se ajoelhou e tirou meus sapatos carinhosamente. Sorriu. Abraçou minhas pernas, abraçou como se aquilo fosse outro pedido de desculpas. Não pelo golpe certeiro no queixo, mas por ter me encontrado. Por voltar todas as vezes, por não conseguir sair daqui. Ela, ruidosa e cuidadosamente colocou de lado meus sapatos e beijou meus pés. Aquilo foi a coisa mais bonita que já vi na porra da minha vida.
Aqueles lábios faiscantes!
A garrafa bateu com força no meu queixo, mas não quebrou. O queixo sim.
E ela depois levantou do sofá e enquanto vestia a calcinha (uma mulher vestindo a calcinha com um cigarro entre os dedos é a outra coisa mais bonita que eu já vi) me encarou séria e me pediu pra esquecê-la. Eu dei de ombros. Eu jamais poderia impedi-la. Deitamos no chão, apagamos a luz. Ela começou a cantarolar uma música, meu peito doeu, implodiu, e então não pude evitar e comecei a cantar com ela. Era nossa última chance, e não nos veríamos nunca mais.


(caixa de corerio)

3 comentários:

Adriana Brunstein disse...

Tinha que ter queixo. rs.

Mayra disse...

Adoro seu blog, Paula.

Klaus disse...

Dri, ando meu queixando, rs...

Mayra, isso me deixa contente, sabia?