7.1.11

só por cinco minutos, eu preciso desse silêncio.
assim como preciso de todas as minhas convicções e desesperanças, duas doses ao cair da noite e um bom livro por perto. assim, oras, como preciso acreditar no que sinto pra continuar, mesmo sendo isso uma puta encrenca. assim como agora os barulhos vindos da cozinha já são outros, outra vez, e eu tenho tido medo de andar sozinha na rua de madrugada. como se fosse perseguida, ou como se estivesse sendo só ignorada. não, não me peça pra esquecer coisas, aquelas que também são minhas, não me peça pra ser gentil e jogar fora. faça somente a sua parte, eu cuido das minhas próprias feridas. como os gatos que se limpam e se cuidam, que saem por aí e não precisam de um afago, a menos que queiram um. um ponto final. um momento de paz e as suas histórias dos tempos no cortiço. uma amiga me contou que na grécia as pessoas não entendem a piada, aconteceu o mesmo comigo ontem a noite. saindo do cinema olhei pro outro lado da rua e notei fachadas e luminosos emoldurando a noite, pessoas falando sobre sonhos e desejos, um cara dormindo na calçada mais triste da avenida paulista. eu sonhando com pessoas que eu nem conheci e acordando atrasada. correndo até o ponto de ônibus, faminta, pensando tediosamente em erros recorrentes.