11.11.09

ponto.

Aprendi muito cedo que algumas pessoas nunca vão conseguir enxergar através do meu olhar. Depois percebi que isso muitas vezes é dificil até pra mim. Encontrei pessoa legais que depois tiraram a capa de chuva e no fundo nem era tão legais assim. Quis ser aquela que as pessoas percebem, que perguntam, e derrepente essa percepção se misturou as perguntas e essa nuvem cinza de enroscou em mim. Contei grandes histórias pra quem me ouvia sem cobrar finais felizes, pra quem ouvia porque gostava e apenas porque gostava de mim, aliás, e essas histórias viraram fantasmagóricas e tristes lembranças, navalhando sorrisos e lapidando respeito, me perdi num conto onde a bruxa sai a 200km por hora numa harley e atropela o príncipe, os súditos e toda sua personalidade, ela vira uma personagem escrota e morre de overdose num banheiro ecológico do acampamento de um festival de clássicos da mpb. Daí lembrei que gosto de escrever uns contos, que tenho livros de poesia no armário, que sei descascar uma laranja em espiral sem rasgar a casca, e respirei fundo. Vieram na cabeça muito momentos, gargalhadas que quase me tiraram todo o ar do pulmão, e eram tantas e tão melhores que noites que passaram e sequer arranharam a memória. E uma tira da Mafalda me fez passar o dia tranquilo, é melhor que anti-depressivo. Tive uma idéia, que virou um plano, agora vou dominar o mundo e ninguém vai acreditar quando eu contar. Porque também sei, e isso há muito, que dá pra misturar tudo aqui dentro sem enlouquecer. A pessoa que me deu o melhor presente do mundo (e aquele amor honesto) tem algumas mágoas no bolso, e no armário da cozinha, e entre os dedos dos pés. E eu tenho uma bolsa imensa cheia de retalhos de meses que passaram por mim rápido demais, e remorso não passa com neosaldina, nem com abraço passa caralho. E me telefonaram com uma notícia que não cabia dentro do aparelho telefônico, eu vou ter um sobrinho, vou ser tia. Uma coruja de olhos enormes que vai ficar babando sobre o berço, isso vai ser muito divertido. Meu irmão com os olhos cheios, com o coração acelerado e um indescritível e despudoradamente bonito sorriso na cara. Senti denovo aquele frio na barriga, aquela coisa boa de esperar por alguém que vai chegar pra te ver, ou não mas que você fica imaginando que podia ser assim. Senti saudade também, como não sentia desse jeito que dói. Senti raiva e raiva é tão pessoal que mais parece egoísmo pra algumas pessoas. Ouvi músicas lindas, show dos meus amigos. Tenho um amigo que é um super herói, com capa e tudo, e ele voa. Aprendi a falar mais baixo, a roer as unhas, a separar cada coisa e cada causo. Vi que algumas pessoas confundem convivência com conveniência, mas que não perceberem ou acham que assim fica mais fácil, ou acham mesmo é que ninguém percebe. Fui ao cinema, paguei meia entrada e perdi um truque, me diverti até doer a barriga. Desci a rua falando de planos e sonhos, fazendo gracinha, me vi há um ano quando eu ainda não tinha medo de encarar o espelho. Recuperei a vontade de mim mesma, a vontade de me enxergar nas tuas feições e acertar o meu passo com o teu na calçada.
Descobri que não é o externo que tem me feito mal, e isso foi a coisa mais triste do mundo quando eu passei em frente a uma loja de brinquedos e vi um par de patins na prateleira.