2.3.10

trinta de março

olho daqui pra lá onde vejo moleques descalços
jogando bolinhas, de gude,
em cima do triângulo desenhado
com giz, de lousa,
e meninas que coçam a cabeça com pressa
para entender seus pequenos corpos
de onde virão
mães
como as que vejo apontando a direção
que não é a certa
e como tem mesmo que ser
e olho pra lá esperando finalmente encontrar
alguém mais interessante que eu
que talvez me diga porque sempre faltam estrelas no céu de março
em cima da minha janela e
diga "até amanhã!" mas que não precise voltar
amanhã
pra ser sincera nisso
e olho as bolas de vidro
girando naquele triângulo de giz e me fazendo pensar
em tantas coisas esquecidas guardadas numa lembrança empoeirada,
os moleques desistem do jogo por uma garrafa
de tubaína,
eu desisti por muito menos.