5.6.08

é só isso

Outra noite um cara me disse que até gostava do que eu escrevo mas que faltava alguma coisa. Não contente ele ainda me deu dicas de como devo fazer, disse que falta pulso, que tem que ter mais soco na cara, mais cuspe, que tenho que coçar mais o saco. E tudo isso na mesa de um bar, na última noite daquele bar. Numa noite em que eu não queria falar de mim, que eu só queria ficar olhando meus amigos jogando bilhar enquanto eu e a Carol nos divertíamos com as estatísticas sobre a poluição do ar e madrinhas de casamento. E não contente, ainda, continuou falando e falando e falando. Nem notou como meus olhos estavam revirados e que eu já nem olhava pra sua cara. Não foi a primeira vez, mas quando me disse isso anteriormente me senti tranquila, agradeci pois o que ele me falou fazia algum sentido e talvez tenha até me ajudado em alguma coisa. Mas o que ele não sabe é que não atendo a pedidos, provavelmente estava me confundindo. Confesso que não fiquei feliz com seu discurso, não a ponto de me sentir ofendida, isso não, mas naquela hora poderia ter apenas respondido o que perguntei e só, continuaríamos (eu e a Carol) nossa conversa cheia de sorrisos e só.
Eu escrevo meus contos do meu jeito, e se isso não está bom pra você simplesmente não os leia, não os discuta comigo numa festa onde só pretendo observar a próxima tacada do meu amigo. Não me compare, isso aqui (por enquanto!) é só um blog. E não faça isso logo quando desperto de um cochilo atrás da mesa, meu humor é bem traiçoeiro. Apenas digo que o que está escrito aqui e ali, o que você e as outras pessoas lêem aqui, são as minhas palavras e, fora os erros de gramática, ainda não pretendo mudar nada. Sou aprendiz de muita coisa ainda, e posso estar cometendo um erro me incomodando com você, mas é só. Não tô querendo brigar, tampouco ser mal educada, só quero que me respeite.
O saco do meu namorado é o único que coço, mas isso não tem nada haver com literatura e coisas que o valha. Isso tem haver com romance! Você entende? Acho uma tremenda falta de educação cuspir no chão (o que faço às vezes), e palitar os dentes é uma delicia mesmo, mas só depois de uma feijoada. Aliás, você já comeu uma feijoada com os amigos num sábado, com crianças perguntando coisas cabulosas pra você, com uma mão quente segurando a sua enquanto seu olhar se perde num outro? Acho que não... Eu não vou sair da sua vida por isso (rá!), porque eu só fiquei brava na hora e depois enchi a boca com um pastel de bacalhau, e outro de carne, e um copão de caldo de cana e fui feliz pra casa esperar meu telefone tocar. O seu tocou? Pois é...
Eu não ia mais tocar nesse assunto, mas hoje disseram que eu sou uma menininha perigosa e me obrigaram a fazer alguma maldade. A culpa é deles, fique com a consciência tranquila. A minha está.

Ficamos por aqui.

4.6.08

Dia de festa na casa da Fátima. É aniversário do Luiz, seu filho mais velho. Ela morre de orgulho do filho, é seu maior tesouro - é o que ela diz. E hoje tem bolo pro garoto que completa 17 anos.


Não que eu tenha qualquer tipo de preconceito, nem que esteja julgando ou maldizendo o filho da Fátima, mas o moleque tem uma pele boa demais pra um moleque de dezessete anos. Nenhuma espinha, nenhuma cicatriz, nunca o vi com camiseta de time algum. Não quero fazer surgir uma dúvida, não suporto boatos, mas tenho certo apreço por Fátima e por sua grande bunda de senhora de família. Hoje ela está espalhando sorrisos pelo bairro e eu tô preocupado, se minhas suspeitas forem verdadeiras... Fodeu.


Ano passado fizemos um churrasco na casa da minha irmã, que mora ha dois quarteirões daqui. Foi num domingo a tarde e a casa estava cheia. Fátima veio dentro de um vestido florido que jogava sua bundona na minha cara. O filho não veio, tinha prova de matemática e precisava estudar - foi o que ela disse. Minha irmã é uma dona de casa descuidada, ao contrário da Fátima, faltavam talheres, copos e pimenta. O que acabou sobrando pra mim que tive que retornar dois quarteirões e de lá mais um até a casa da mãe do aniversariante (que na época estudava pra prova) pra pegar as coisas que faltavam. Não toquei a campainha porque já sou de casa, quase um parente só que mais querido e menos interessado, o que foi meu erro número único. Deitdo no sofá da sala estava o Luis, o garoto sem espinhas, e no tapete, bem próximo do sofá, um amigo dele um pouco mais alto, mais forte e meio desengonçado. Os dois pararam de flar assim que entrei no cômodo, e suas bochechas tinham um vermelho inconfundível. Fiz como se não tivesse os visto, peguei o que precisava e saí rápido antes que algo acontecesse. Depois desse dia nós, eu e o moleque, nos olhamos de outro modo, como se tivéssemos um segredo. Nunca toquei nesse assunto com ele, nem com a mãe dele, tenho certa repulsa da verdade em certos casos. E talvez se algo do que passou na minha cabeça fosse mesmo real a mãe dele deixaria de ser a mulher que é, talvez, e eu perderia minha admiração. Melhor fiz ficando calado com minhas suspeitas guardadas apenas pra mim.


Mas esse ano algo parece estar prestes a acontecer. Luis me disse que vai fazer uma surpresa pra sua mãe. Na festa, na frente de todo mundo. Ele com aquela cara bem tratada e aquelas pernas sem nenhuma marca de partidas de futebol com os amigos da escola. E meu coração descompassou. Aquele viadinho filho da mãe ia estragar tudo. Talvez a Fátima até quisesse mudar de país pra esconder a vergonha. E como vou viver sem o balançar diário daquela bunda doméstica a me embaçar a vista? Agora é comigo, tenho que tomar alguma providência. Se quer chupar pau e se enrroscar em marmanjo que o faça, mas deixe a mãe de fora. Decidi falar com o moleque de uma vez por todas. Tínhamos algo pendente que precisava mais do que nunca ser esclarecido.


Encontrei com o cretino no quintal da casa e pedi que entrássemos pra conversar. Sentei no sofá, ele ficou em pé me olhando curioso como se não soubesse o que eu queria dele, como se aquela tarde de domingo não houvesse acontecido. Viadinho cretino. Agora vou pôr fim na farsa, e nada estragaria a felicidade da Fátima.