9.2.10

nota:

ensaiando um novo jeito de sofrer, estendo roupas íntimas no varal ás cinco da manhã. acendo um cigarro na hora do banho e misturo fumaça e vapor, revendo a mesma dificuldade de separar as coisas. ensaio á meia noite um telefone pra uma amiga, desisto e abro um livro que eu já li, dentro do livro uma fotografia e um cartão telefônico sem unidades, antes era ficha. fico olhando pro teto no escuro, olhando pra direção do teto que eu não vejo no escuro. eu choro, eu cuspo, eu penso em filmes e piadas tudo ao mesmo tempo. o meu telefone não toca, é quase um silêncio sepulcral. meu pescoço ainda tá doendo, o meu estômago ainda tá doendo. o meu coração ainda tá doendo também, mas não o músculo. escrevo uma carta ao meu avô paterno e desisto antes de assinar, algumas pessoas se vão. quase morro de calor ás três da tarde e penso em férias. aprendendo a cozinhar pra fiar mais tempo dentro da cozinha com a minha mãe. escrevendo poesia em guardanapo de lanchonete, equilibrando palito de dente na ponta do nariz.
escrevendo a lápis, só pra poder apagar depois.