20.5.10

pela manhã

E então você acorda e suas roupas não estão lá, em cima do criado mudo um bilhete com a caligrafia que você já conhece. Tudo parece ter congelado naquela madrugada e você não sente frio sem roupas, sua pela arrepia, seus dedos doem e ficam azulados nas pontas, mas você continua não sentindo frio. Você sai da cama e olha em volta, não reconhece o tempo que passou até ali, não recorda do rosto que tinha na noite anterior, e isso causa um tremor. No bilhete repousado talvez alguma explicação e, talvez nada fosse mais do mesmo jeito. Não faria a mínima diferença o que tinha ali, e você rasgaria aos mil pedaços e colocaria com cuidado embaixo da língua. E sobre tudo aquilo que está feito mastigaria devagar, ainda olhando em volta, procurando um cheiro parecido com aquele grudado na sua pele. E então você recorda de um rosto, e algumas palavras se encaixam com as memórias, aquele gosto na boca te faz sentir um calafrio, suas pernas tremem, você pisca duas vezes bem rápido, ainda não sente frio, você sente saudade. Ainda.

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