14.7.08

balões e guarda-chuva, quando andei do lado de lá


de tudo que fica guardado dentro da gente tenho certeza que a pior parte é a adolescência. quando a gente quer provar pra eles que sabemos a diferença entre solidão e ficar sozinho no quarto terminando um daqueles trabalhos de geografia. mas se disser que não sinto falta posso estar mentindo. porque eu andava na chuva sem preocupação com analgésicos e atestados médicos. comia qualquer coisa mergulhada no óleo queimado e virava a cidade ao avesso atrás de maconha, cocaína e bucetas. hoje eu preciso me apressar no transito pra não perder o emprego, naquele tempo o emprego e eu não conseguíamos nos entender. minhas roupas secavam no corpo no sofá de um amigo, ao lado da garota mais bonita do último bar. agora os sapatos esmagam meus dedos que ficaram largos e disformes com tantos anos de allstar. ela hoje diz quase não me reconhecer, ela ria da minha barba bem feita e se diverte com as minhas preocupações com a conta de água, com redução de energia, ração pros cachorros. carro e metrô, correria no corredor, o chefe e os tapinhas nas costas. pouco dinheiro e uma mulher bonita dizendo que você é o cara mais bacana do mundo. parece que tudo tá certo mas eu sinto falta daquele tempo, porque eu sabia que tudo ia passar logo e eu teria os amigos e os discos, e de algum jeito tudo ia terminar bem. mas agora pra todo lado que olho vejo paredes em preto e branco e pouca gente se divertindo. os cachorros enxergam assim, né? em preto e branco. porque eu lembro que do ônibus eu via muito mais cores nos guarda-chuva e nos balões, eu via mais balões. se eles me pergutarem a diferença de solidão, hoje, eu vou dizer a eles que estou atrasado, pra discutirmos isso outra hora. entendeu?

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